OPINIÃO
Globalização ou “Roubarização”?
O conceito de globalização – como conjunto de fluxos económicos, sociais, tecno-comunicacionais e culturais –, tem sido objecto de debate desde os defensores e glorificadores neoliberais, passando pelos regulacionistas até aos críticos designadamente neomarxistas.
Neste diapasão, Wiseman (1998:1) considera que, “A Globalização é o slogan mais escorregadio, perigoso e importante dos finais do século XX. É escorregadio porque pode ter muitos significados e pode ser usado de várias maneiras. É perigoso porque muito frequentemente é usado como uma justificação poderosa e simplista para a expansão interminável e não regulada das relações capitalistas em todas as esferas da vida, em todos os cantos do mundo. É importante porque os debates sobre a globalização podem iluminar um mundo em que o espaço e o tempo foram tão dramaticamente comprimidos que as ações que se dão num canto do mundo têm rápidas e significativas repercussões sobre as pessoas e lugares localizados a distâncias muito regulares”.
Para os críticos, a globalização desmorona a soberania, fazendo com que governos nacionais aparentem estar desprovidos de poder em face das tendências globais, afastando, assim, os esforços governamentais de fiscalizar integralmente a sua economia. Logo, pode-se dizer que, a globalização hegemónica (excludente, pois faz com que haja globalização dos riscos e localização dos benefícios) e o liberalismo económico (neoliberalismo) tomaram conta das políticas governamentais, em detrimento do Estado-nação, onde o slogan é “salve-se o dinheiro e que sofra ou morra o povo”. Quevebo (1997) rebate que se a globalização é comummente vista sob um aspecto negativo nos aíses em vias de desenvolvimento, é porque o fenómeno é uma comprovação do imperialismo e neocolonialismo económico.
Muitas corporações multinacionais – com sede no Norte global, mas com várias ramificações em muitos países –, embora promovam o desenvolvimento no Sul global, provendo capital, formação e conhecimento de gestão, não é menos verdade que elas exploram o Sul global e dificultam o seu desenvolvimento, bem como colaboram para o alargamento do fosso de desenvolvimento diferencial entre ricos e pobres. Alguns críticos, como Spiegel (1995), Boaventura de Sousa Santos (2003), Immanuel Wallerstein (2003), entre outros, acreditam que estas corporações multinacionais substituíram o sistema colonial como meio principal de entrada e extração de riqueza do “Sul”.
Por outras palavras, as corporações multinacionais controlam e manipulam a produção das matérias básicas nos países do terceiro mundo. E esta exploração é realmente mais eficaz e mais rentável do que o método usado durante a era colonial. Assim, embora os países do terceiro mundo tenham conseguido a independência política, são mantidos pela economia- -mundo capitalista no estatuto de países dependentes, o que tornará difícil a aquisição da sua soberania. Pode concluir-se, então, que o surgimento do mercado global redundou em consequências drásticas para os países do terceiro mundo, tais como a ampliação da insegurança de emprego (precariedade laboral), as condições desumanas de trabalho, as culturas em risco e o aumento do crime organizado. Por isso, questiono: chama-se a isso Globalização ou Roubarização? Cooperação Internacional ou Neocolonialismo? Apoio ou Dependência? Todavia, creio que é possível contornar ou mitigar esta globalização hegemónica ou neoliberal que considero ser neocolonização. Existe, como diz Boaventura de Sousa Santos (2003), a globalização alternativa/contra-hegemónica ou alter globalização ou, o que preferimos chamar glocalização, que é organizada da base ao topo.
A glocalização é caracterizada pelo domínio de iniciativas locais dos grupos sociais subalternos e dominados no sentido de resistir contra a opressão, a descaracterização, a marginalização, produzidas pela globalização hegemónica. A glocalização é, portanto, a fusão do global e do local, ou dos termos localização e globalização, simplificando o famoso lema em ascensão “pensar globalmente e agir localmente” (S. Lash & J. Urry, 1994). Como diz Hall (2006) ao invés de pensar no global como “substituindo” o local seria mais certo pensar numa nova relação entre “o global” e “o local”.
A glocalização é, assim, uma globalização que determina limites: ela deve se adaptar às realidades locais, em vez de ignorá-las ou, simplesmente, destruí-las; deve respeitar as diferenças culturais locais, sem deixar de expandir o seu mercado, causando, assim, uma relação entre a homogeneização (criação de padrões) e a heterogeneidade (protecção da diversidade cultural local). Como dizem os latinos, in medio virtus est (a virtude está no meio).
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