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OPINIÃO

O homem que só gostava de impala

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 Era conhecido por Álvaro Cabral Mandioca. O Álvaro Cabral era o nome de nascença, o Mandioca, porém, foi um apelido que ganhou na zona por causa do gosto e do consumo excessivo da cerveja Impala de Mandioca. Ele, mulato de origens lusitanas, não tinha os chiliques da clara tez, pelo contrário, sempre que convidassem-no para convívios, Álvaro não queria nenhuma outra marca de bebida que não fosse a de Impala de Mandioca. Questionado o motivo de tanto apreço por aquela marca da cevada, este respondia em jeito de monólogo reparando para o rótulo da garrafa escrito em letras bem legíveis “IMPALA”.

― Essa é a melhor bebida que existe no mundo ―tragava um gole gigante e depois sorria sentindo a espuma escorrer-lhe pelos beiços ―Aaah, bem geladinha!

Para ele, com o excesso da Mandioca produzida na província, não fazia nenhum sentido terem outras marcas de cerveja, até porque, tudo deveria ser feito a base da mandioca: Ceres de Mandioca, Lasanha de Mandioca, Cigarro de Mandioca, whisky de Mandioca.

― Até Coca-Cola deveria ser de mandioca, Amigos. Dizia ele aos companheiros.

― Mas Cabral,até ai estas a piorar. Disse um outro mulato.

― Que tudo seja de Mandioca? Não. Até o sal tinha que ser de mandioca, que Deus refaça o sal meus irmãos.

Os amigos repararam-no e sorriram porque ele carregava uma garrafa de impala de mandioca em uma mão e na outra, carregava o tubérculo em estado sólido. Em um momento comia, em outro, bebia.

Aconteceu que em um dia o mulato acordou, preparou-se e dirigiu-se ao bar mais próximo de sua casa. Sentou-se e pediu em alta voz:

― Dá-la uma bazuca ai.

Não demorou muito e uma criança trouxe a cerveja em uma bandeja, pousou-a na mesa e quando ela quis abrir, o mulato pós a mão sobre o topo da garrafa, furioso.

― Eu te pedi 2M? Tira-me esta merda daqui e traga-me uma Mandioca pah!

A menina saiu com a cerveja correndo e voltou só com a bandeja nas mãos

― Titio…

― O que foi? O mulato reparou-a nervoso

― Mandioca, não tem!

Álvaro levantou-se encoleirado.

― Como assim não tem, acabou?

―Sim,e nem no depósito de venda tem. Gritou a menina.

Inconformado, Álvaro Cabral saiu e foi procurar em outros estabelecimento de venda de bebida, mas em cada lugar em que entrasse, a resposta era sempre a mesma, a impala de mandioca havia sumido. O mesmo acontecia com a mandioca não processada, nos mercados, também não existiam. Exortado a tomar outras marcas, o mulato negava, afinal, não eram as outras marcas que o atraiam, ele apenas amava a impala. Daquele dia em diante, o mulato exilou-se, confinado em sua casa e com o semblante caído. Depois de um tempo, preocupados com ele, os amigos foram visita-lo e, sobre caixas e caixas de garrafas da cerveja impala que estavam em sua residência, encontraram uma carta dizendo:

“Bêbados amigos, é com imensa tristeza que me anuncio a vós. Pelo amor que tenho pela mandioca, dirijo-me nesse instante ao distrito de Ribáuè para que junto dos produtores eu possa entender o porque da escassez da impala nos nossos bares. Volto assim que encontrar a mandioca. Do vosso amigo Álvaro Cabral, o Mandioca”

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