SOCIEDADE
Mortos “clamam” pela paz em Nampula e PRM diz que aguarda denúncia para agir
Em vários cemitérios comunitários, na cidade de Nampula, alguns mortos já não descansam em paz na sua eterna morada, devido a uma nova onda de vandalização de túmulos para a retirada de cruzes metálicas que posteriormente são vendidas nas sucatarias.
Despois de violações de túmulos para a retirada de ossadas humanas, para venda e/ou superstição, este parece ser um novo “negócio” praticado, na sua maioria, por adolescentes e jovens para se refugiar do desemprego em que estão voltados.
A cidade de Nampula, a considera capital do norte do país, possui três cemitérios oficiais, geridos pelo município local, e mais de 100 entre familiares e comunitários geridos pelas comunidades. Os cemitérios comunitários de Cotocuane (no bairro de Namutequeliua), Colomwa (bairro de Muatala), Ntota (zona da Faina, bairro de Mutauanha), Warape (Unidade Comunal Piloto-Mutauanha) são exemplo de vários outros em que os túmulos são vandalizadas à luz do dia.
Os cidadãos e familiares dos finados culpam a falta de vedação dos cemitérios aliada à falta de responsabilização dos malfeitores por parte das autoridades policiais, como sendo um dos maiores factores que concorrem para os roubos das cruzes, desrespeitando os defuntos.
No bairro de Namutequeliua, o Rigor entrevistou Alberto Eugénio que reside nas imediações do cemitério de Cotocuane e confirma as vandalizações das campas, e diz que tal deve-se a falta de proteção do mesmo, por parte das autoridades municipais.
“Os malfeitores removem cruzes metálicas nas campas para aproveitarem os ferros para venderem. Eles não têm medo, veem de noite, nas tardes até nas manhãs”, lamentou. Embora reconheça o quão é difícil sobreviver, por conta do desemprego, Alberto condenam os jovens que aderem a vandalização de túmulos para venda de cruzes em sucatarias.
Albertina dos Santos pede as autoridades para colocarem termo a esta situação, pois segundo elas os mortos também precisam de paz. “Isto não é bom. Estamos a pedir ajuda [das autoridades politicais] para que diminua esta situação”, exortou.
“Não acho boa pártica, esses jovens não têm um bom pensamento, isso pode prejudicar pessoas que têm familiares aqui no cemitério, e isso não fica bem”, lamentou.
Compradores desapontados
Segundo apuramos, grande parte dos ferros velhos, incluindo cruzes metálicas roubados em cemitérios, são no final revendidos as grandes indústrias de produção de varrões e outros objectos, na cidade portuária de Nacala, na província de Nampula e noutros pontos do país.
Abdul Paulo compra e revende ferros velhos há mais de três anos, para garantir a sua sobrevivência. Ele diz que um quilograma de ferro velho compra a 10 meticais,
Abdul não sabia que parte dos ferros que compra pode estar a ser subtraído das campas em mais de 100 cemitérios comunitários espalhados pela cidade de Nampula e agora está de alerta.
“Assim que já ouvi, estarei a vasculhar em cada saco para aferir se não existem cruzes metálicas”, disse o nosso entrevistado visivelmente desapontado com o cenário.
Polícia diz que aguarda pelas denúncias para agir
A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, por intermedio do seu porta-voz Zacarias Nacute, em entrevista ao nosso jornal começou por dizer que a gestão e proteção dos cemitérios competem as autoridades municipais, mas ainda assim, por que a corporação tem por obrigação velar pela ordem e tranquilidades nunca recebeu sequer uma denúncia sobre a vandalização de túmulos.
Nacute diz que a Polícia está pronta para combater o fenómeno, neutralizando e responsabilizando os autores destas práticas. “Neste momento, não recebemos uma denúncia referente a vandalização de campas nos cemitérios a nível da nossa área de jurisdição, mas diante deste caso aconselhamos aos populares para que denuncie as autoridades policiais para que a polícia possa tomar medidas de segurança para que possa garantir que outras campas não sejam vandalizadas, como o caso das outras que já ocorreram, segundo as denuncias que vocês receberam”, disse.
Município tem conhecimento garante vedações
Afinal, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula sabe muito bem deste caso, mas ficou inoperante por quase três anos, em que o “negócio” iniciou a nível da autarquia.
O director do Gabinete de Comunicação e Imagem, no Município de Nampula, Nelson Carvalho Miguel, diz que a edilidade está a par do assunto. “Temos conhecimento desta situação, e estamos a trabalhar no sentido de darmos segurança. E no nosso plano para este ano prevê a vedação de cinco cemitérios comunitários”, sem precisar de mais detalhes.
Sociólogo diz que “o acto rompe padrões socialmente aceitáveis”
O sociólogo Faquir Fernandes mostra-se preocupado e diz que é “preciso frisar que, enquanto actores sociais, somos educados a respeitar os cemitérios que, em linguagens popular, são designados por última morada”, disse.
Fernandes diz que, olhando pela situação, deparamo-nos “num comportamento tido como sendo desvio social, na medida em que estes [indivíduos] adotam formas de conduta pouco incomum, e por sua vez rompem com certos padrões socialmente aceitáveis, isto é, a imoralidade e códigos de valores” e “é preciso que as autoridades repreendam exemplarmente para que tais actos não se repliquem”.
por: Sitoi Lutxeque
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