OPINIÃO
O Silêncio das Alianças

O casamento sempre foi visto como o ápice do amor humano, o sacramento do compromisso e a promessa de eternidade entre duas pessoas. No entanto, com o passar dos tempos, esse ideal tem sido posto à prova. Hoje, o casamento tornou-se, para muitos, uma arena de conflitos, mal-entendidos e desencontros. O que era para ser um abrigo de paz, acaba, em muitos casos, transformando-se em um campo de batalha, onde o orgulho fala mais alto que o amor, e o perdão perde espaço para o ressentimento.
A realidade é que os casamentos modernos sofrem de uma crise de valores. Casais unem-se com pressa, muitas vezes seduzidos por uma paixão momentânea, sem compreender a profundidade do compromisso que assumem. Confunde-se amor com desejo, e romantismo com posse. Quando a rotina chega, quando o encanto das primeiras noites se apaga, muitos descobrem que viver a dois é um exercício diário de paciência, humildade e renúncia. E é nesse momento que muitos desistem não porque o amor acabou, mas porque não aprenderam a amadurecer dentro dele.
Um dos grandes problemas dos casamentos actuais é a falta de diálogo. As palavras deixaram de ser pontes e tornaram-se armas. As discussões são travadas não para resolver, mas para vencer. O “eu” passou a ser mais importante do que o “nós”. E quando o casal deixa de conversar, começa a se afastar. O silêncio, que deveria ser um espaço de reflexão, transforma-se em abismo. Vive-se sob o mesmo tecto, mas com corações distantes. Há quem diga “bom dia” e “boa noite”, mas o olhar já não se encontra e o toque já não diz nada.
Outro problema sério é o excesso de expectativas. Espera-se que o cônjuge seja tudo: amante, amigo, psicólogo, conselheiro, provedor e, ainda, motivo de felicidade. Esquece-se que cada ser humano carrega suas próprias fragilidades e limitações. Ninguém é capaz de preencher todos os vazios do outro. O amor conjugal não é um milagre, é uma construção. Exige trabalho, compreensão e sacrifício mútuo. E quando essa verdade não é entendida, surgem as frustrações, as comparações e, muitas vezes, a traição emocional que é mais devastadora que qualquer infidelidade física.
Há também o impacto das redes sociais e das novas formas de vida moderna. A exposição excessiva, as comparações com outros casais e a busca por aprovação pública têm destruído a intimidade conjugal. Muitos vivem um casamento de aparências sorrindo nas fotografias e chorando em silêncio nas madrugadas. As redes mostram o “casal feliz”, mas escondem os desentendimentos, os ciúmes, o cansaço e o medo de fracassar. Assim, os casamentos tornam-se espetáculos e perdem a essência do que deveriam ser: comunhão de almas, e não exibição de status.
Além disso, há a questão das responsabilidades desiguais. Em muitos lares, ainda prevalecem padrões antigos, onde um trabalha demais e o outro se sente negligenciado; onde um fala e o outro obedece; onde o “machismo” e a “submissão” convivem sob o mesmo teto disfarçados de tradição. E, nesse cenário, o amor vai se desgastando, minado pela falta de reconhecimento e pelo cansaço emocional. Um casamento só floresce quando há equilíbrio — quando o homem e a mulher caminham lado a lado, partilhando o peso e a leveza da vida.
O casamento, apesar de todos os seus desafios, continua sendo uma das mais belas instituições humanas. É um pacto de amor que resiste às tempestades quando é regado pela compreensão. Nenhuma relação está isenta de problemas, mas o segredo está em enfrentá-los juntos. Amar não é apenas sentir, é decidir. É escolher todos os dias permanecer, mesmo quando tudo convida à fuga. É saber calar quando o outro precisa falar, perdoar quando se tem razão, e recomeçar quando tudo parece perdido.
Infelizmente, muitos casamentos terminam não porque o amor morreu, mas porque as pessoas deixaram de lutar por ele. Preferem o conforto da separação à dificuldade do perdão. Mas o verdadeiro amor não se mede pela ausência de conflitos, e sim pela capacidade de superá-los.
No fim das contas, o casamento é feito de duas pessoas imperfeitas que escolheram não desistir uma da outra. E enquanto houver disposição para compreender, dialogar e amar com sinceridade, sempre haverá esperança. Porque, mesmo no meio das dores e dos desencontros, o amor quando é verdadeiro sabe reconstruir o que o tempo tentou destruir.
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