Connect with us

SOCIEDADE

Medidas para contenção da insurgência no norte de Moçambique silenciam vozes e limitam participação social dos jovens, conclui um estudo da FCSH

Publicado há

aos

— Enquanto os jovens do sexo masculino, queixam-se de espaços formais de participação, as do sexo feminino têm nos grupos de poupança uma plataforma de mobilização social
As medidas para contenção da insurgência no Norte limitam ainda mais a capacidade dos jovens de participarem nas discussões comunitárias sobre segurança, conflito e paz, uma vez que discutir questões ligadas à segurança pode ser interpretado como uma forma de oposição. Essa é a conclusão de uma pesquisa divulgada na última Terça-feira pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Ilha de Moçambique, que analisou o papel da juventude na promoção da paz, segurança e inclusão social, tendo sido realizada nas regiões de Nampula e Cabo Delgado.
Conduzido entre os meses de Abril e Agosto do ano passado nos distritos de Eráti, em Nampula, Chiúre e Mecufi, em Cabo Delgado, a pesquisa da Universidade Lúrio aponta que nesses três distritos há uma carência de espaços para os jovens poderem se envolver nas discussões comunitárias a respeito do tema.
Mesmo nos distritos que parecem possuir um número maior de associações juvenis, como Chiúre, assim como em Eráti e Mecufi, onde o número de associações é mais baixo, os jovens encontram obstáculos semelhantes que dificultam a sua participação activa em conversas sobre segurança e paz.
“A Instabilidade económica, acesso limitado à educação, emprego e percepções de jovens como desinteressados ou que se envolvem em actos violentos levaram a sentimentos de marginalização e exclusão”, refere o estudo.
Um ponto importante a considerar é que, enquanto os rapazes expressam insatisfação com a falta de espaços formais de participação, as meninas encontram nos grupos de poupança uma forma de engajamento social.
“Os grupos de poupança, xitique, representam espaço de diálogo sobre questões de mulheres, envolvendo a violência de género, solidariedade com outras mulheres, entre deslocados internos. Nestes espaços, as Mulheres recém-chegadas de áreas afectadas por conflitos são acolhidas. Outro espaço para os jovens discutirem questões comunitárias são as associações de pescadores, horticultores e músicos”, O estudo ressalta que os jovens que possuem um pensamento crítico estão completamente marginalizados em organizações juvenis associadas ao governo e em fóruns como a Assembleia Municipal, no contexto da Autarquia de Chiúre e conselhos consultivos nos distritos de Eráti e Mecufi.
“Iniciativas como os Clubes da paz e a rádio comunitária, organizações formais como o Conselho Distrital da Juventude (CDJ), o conselho consultivo distrital e a Assembleia Municipal, permitem aos jovens participar de discussões comunitárias. Enquanto as associações particulares tendem a ser mais abertas e abraçar o pensamento crítico nas discussões, os fóruns públicos tendem a ser alinhados e reproduzir os discursos do governo, excluindo vozes críticas”.
No entanto, as associações de jovens são referidas como tendo um papel crucial no diálogo com as autoridades governamentais e as comunidades.
Por exemplo, no caso dum incidente em que a comunidade se envolveu no assassinato de um agente eleitoral suspeito de ser terrorista por não ser conhecido em Chiúre, convocaram o Governo e as comunidades em um clima muito tenso para mediar e resolver a questão.
Nesse contexto, as pessoas estranhas ou desconhecidas arriscam serem consideradas apoiantes do grupo insurgente, e qualquer coisa diferente da norma é recebida com suspeita pelas comunidades locais.
Na vila de Namapa, os mecanismos para os jovens contribuírem para as discussões sobre segurança e paz não estão bem estabelecidos e estão apenas começando a acontecer.
Esses mecanismos são fomentados pelo governo local, que está organizando eventos em escolas locais e reuniões informais e encontros comunitários.
Em Mecufi, as associações de jovens não são visíveis, os horticultores, pescadores, músicos às vezes são convidados por ONGs ou pela Organização da Juventude Moçambicana (OJM), fornecendo um espaço para os jovens (na maioria homens) defenderem seus direitos e negócios.
“Em todos os distritos, as iniciativas formais para promover a participação dos jovens nas discussões sobre paz e segurança são iniciadas por OSCs, ONGs e o estado”. Para aproveitar o potencial dos jovens na construção da paz, o estudo da UniLúrio diz ser essencial garantir espaços seguros e inclusivos que preencham as lacunas geracionais, promovam a participação das mulheres e abordem as restrições sócio-económicas.
As organizações que trabalham para fortalecer o papel dos jovens no enfrentamento da insegurança e no fortalecimento da paz, apoiem as associações formais e informais e espaços culturais para a participação dos jovens em discussões sobre a temática. O estudo também propõe o desenvolver de abordagens holísticas sobre barreiras económicas e sociais ao engajamento cívico dos jovens.
“O Governo, as ONGs internacionais e nacionais e, autoridades locais devem combinar o apoio à paz e à coesão social com a criação de meios de subsistência sustentáveis e o fortalecimento das economias em áreas impactadas pela insegurança”, propõe. As práticas culturais, as associações e outros meios surgiram como espaços importantes para o engajamento, fornecendo uma avenida para os jovens contribuírem nas discussões comunitárias sobre a paz.
Para aproveitar o potencial dos jovens na construção da paz, é essencial garantir espaços seguros e inclusivos que preencham as lacunas geracionais, promovam a participação das mulheres e abordem as restrições socioeconómicas. As organizações que trabalham para fortalecer o papel dos jovens no enfrentamento da insegurança e no fortalecimento da paz, apoiem em associações formais e informais e espaços culturais para a participação dos jovens em discussões sobre a temática. Raufa Faizal

Continue Lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais Lidas