OPINIÃO
Dilema da relação docente e discente: entender ou repreender? orientar ou ignorar?
Há́ pouco tempo, e ainda presente em muitas instituições de ensino, o Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA) consistia em acções distintas de mundos distanciados, sendo um dominante e o outro dominado, algo que representava uma prática pedagógica tradicional autoritária, centrada no professor que ensinava, sem dar espaço aos estudantes para que pudessem mostrar interesse, saber, criatividade e, sobremaneira, poder questionar.
Quando se faz uma análise do actual contexto, nota-se que há reclamações e insatisfações por parte dos docentes em relação aos discentes e vice-versa. Ou seja, a relação docente-discente parece permeada por animosidades. Diante de tantos desconfortos pedagógicos, há alguns impasses: entender ou repreender? orientar ou ignorar? Ou seja, como a relação docente-discente pode contribuir para o sucesso do PEA?
De acordo com Freire (1996: 77), “toda prática educativa demanda a existência de sujeitos: um, que ensinando, aprende; outro, que aprendendo ensina”. Isso significa que no PEA, a educação provém da relação entre docente e discente. Portanto, para Freire (1996), só é possível uma prática educativa por parte dos educadores, se estes acreditarem no diálogo como um fenómeno humano capaz de mobilizar o reflectir e o agir dos homens e mulheres.
Por diálogo, não se deve entender como espaço onde cada um faz o que quer, mas sim, espaço de construção, valorização e respeito, no qual todos se sintam mobilizados a pensar em conjunto. Neste diapasão, é imperioso romper as diferenças entre docente-discente consagradas pela academia tradicional. Os papéis tradicionalmente desempenhados pelo docente – ensinar, transmitir e dominar – e pelo discente – aprender, receber passivamente e obedecer – devem ser mudados. Como diz Mazula (2018), apesar de o professor ser o motor-chave desse processo, ele só poderá lograr êxitos quando souber ser professor, houver articulação estreita de acção e cooperação com outros quatro actores, igualmente determinantes, que são o Estado, as comunidades locais (a sociedade civil), o sector privado industrial e a própria escola.
O diálogo docente-discente torna-se, assim, fundamental na mediação dos conhecimentos. Porém, é necessário ter limites. Aliás, nada anda sem limites. Como dizem os latinos “in medio virtus est” (a virtude está no meio). Zagury (1999) acredita numa relação de amizade entre educador e educando, mas também defende a hierarquia, onde cada um deve exercer o seu papel. Para tal, é necessário que o docente proponha situações didácticas com objetivos claros. Portanto, a função do docente é a de mediador e facilitador, que interage com os discentes na construção do saber.
Portanto, hoje, o docente deve ultrapassar a linha de simples transmissor de conhecimentos para facilitador de ferramentas que ajudem o PEA; deve transcender a sua função de docente para assumir a de um/a pai/mãe, tutor, orientador, supervisor… dos discentes, desde o ponto onde estão até aquele onde querem chegar. Outrossim, os discentes devem ter mente aberta para aprender, desaprender e reaprender, não só na sala de aulas, como também através do uso das facilidades que o mundo cibernético oferece, hoje. Para tal, é imperativo que o Estado, e todas as forças vivas da sociedade, criem condições materiais, humanas, didáctico-pedagógicas… para que esta nova maneira de “docere” não seja uma miragem, pois, não basta querer, é preciso que haja meios para tal. Investir na educação não é desperdício; pelo contrário, é criar condições para que se tenha um país desenvolvido, de bem-estar e justiça sociais.
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