Desrespeitando às regras urbanísticas: Cidadãos de Nampula tomam propriedade privada em nome da segurança

Um grupo de cidadãos na cidade de Nampula acaba de invadir uma propriedade privada e dividi-la entre si, justificando que o local serve como abrigo para criminosos.
A acção, vista como ilícita pelas autoridades locais, acontece em uma área conhecida como “No Viera”, em uma propriedade que, há muitos anos, era utilizada para fins agrícolas, situada no posto administrativo de Natikire.
Segundo os moradores locais, no terreno, é comum descobrir cadáveres naquela área. Em razão das agitações que ocorreram após as eleições de 9 de Outubro e do clima de instabilidade, a comunidade identificou uma oportunidade de invadir e se apoderar.
Predominantemente compostos por jovens, a maioria dos invasores não possui um espaço para se estabelecer. Embora sejam numerosos, até agora não conseguiram construir residências, e o processo de divisão da área continua em curso.
Para demarcar os terrenos, eles utilizam métodos tradicionais, como cordas e estacas cravadas, desconsiderando qualquer norma urbanística ou um plano de pormenor.
“Fiquei sabendo que distribuem terrenos nesta área e decidi escolher um local para mim. Enfrentamos diversas violências nessa mata. Por exemplo, no espaço que escolhi, encontrei dois corpos amarrados a uma árvore. Muitas pessoas comentam, aqui já encontrei restos humanos, ali encontrei uma cabeça. Há assaltos constantes, especialmente quando te abordam com um saco de farinha de milho.
As mulheres também são vítimas de agressões”, relatou Melindo Antônio Paulo Daniel, um dos vários jovens entrevistados pela nossa equipe de reportagem.
Alima Amade foi uma das pessoas que conversaram connosco e relatou que já sofreu um assalto. Quando percebeu a invasão, não hesitou em se apropriar do local, por acreditar que, ao tomar posse do espaço, os incidentes de roubos e assassinatos podem ser reduzidos.
“Ontem soube que distribuíam terrenos e corri para garantir o meu. Sou mãe solteira com filhos para criar e não tenho um lugar para viver, já que não tenho recursos financeiros para adquirir um”, disse Alima, bastante satisfeita.
“Essa mata é vasta e se estende até Natikire, que não está sendo utilizada, além dos bois que pastam por aqui. Eu entendo a acção da comunidade, já que meu primo foi encontrado sem vida neste local, uma semana após seu desaparecimento”, relatou outro residente, de nome Costa Manuel.
A equipe do Rigor conversou com a secretária do quarteirão 15, na área do Vieira, que confirmou a ocorrência de mortes e assaltos frequentes na região. Ela relatou que, no ano passado, 17 indivíduos foram encontrados sem vida, sendo que 4 foram vítimas de picadas de cobras.
De acordo com a secretária, além de abrigar criminosos, a mata também é lar de animais perigosos.
“As invasões não acontecem sem motivo, muitas dessas pessoas estão sem moradia e estamos enfrentando a acção de marginais. Por isso, apoio a comunidade e responsabilizo os proprietários, pois não faz sentido haver uma mata ou criação de gado em meio à cidade. A criação de animais deve ser feita em áreas adequadas. Como secretária, realizo anualmente um levantamento e registo do número de mortos”, afirmou a secretária, Belita Manuel, que também apoia a iniciativa dos moradores.
O Município de Nampula, por meio do vereador responsável pela urbanização, Stefan Miguel, em entrevista ao Rigor desaprova a ocupação de propriedades privadas e distribuição entre os munícipes ilegalmente.
Stefan Miguel, esclareceu que as autoridades municipais estão empenhadas em notificar todos os proprietários de terrenos desocupados para serem utilizados.
Ele ressaltou que todos os terrenos que não forem utilizados na cidade de Nampula serão devolvidos ao Estado, especificamente ao Conselho Municipal da cidade para dar um novo destino. Vânia Jacinto