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SOCIOCOGITANDO

Desconstruindo o mito da Liberdade Individual e de Expressão

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Aparece, com frequência, entre ideias políticas e sociais, trapalhadas de psicologismos a “liberdade individual” como paradigma da felicidade do homem pós-moderno. Liberdade individual, per se, é já contradição, mas oferece-se como desejo politicamente correcto de quem defende e se instala na maldita pós-verdade. Nessa cultura, quando se toca, externa e internamente, o espaço do outro e esse quer manter solto e sem admitir intromissões, levantam-se muros, foge-se, ou se tenta viver em condomínios fechados e bem policiados. Mas, também, acontece que no seu subjectivismo aguerrido e violento haja quem se sinta no direito de “aniquilar” o outro e seu espaço, humilhando e negando o seu lugar até a ofensa em nome da “liberdade individual e de expressão”, apanágio dos que se consideram donos do poder e do saber. Por detrás, está uma ausência de pensamento crítico e um desrespeito pela diferença que suporta os fanatismos.

Portanto, a ideia, quase comum, de que enquanto estiver no meu território posso fazer o que me apetecer, a meu bel-prazer, e só quando toco ou chego no espaço do outro perco a liberdade, parece bastante primária, direi mesmo, infantil. A questão do respeito e da liberdade se situa no encontro e confronto com o outro e com o seu espaço, e aí se concretiza.

Por exemplo, estou no meu quarto e tenho vizinhos pelos lados, por cima, por baixo. Dou-me conta que a minha música chega a outro lado. Aí começa a questão; aí ver-se-á se tenho liberdade para desligar a música, para continuar a tocá-la, que para outros pode ser ruído, ou para modelar ou dialogar. Preciso saber que efeitos tem o meu agir para os outros. E pode acontecer muita coisa, por exemplo, um vizinho gosta muito até agradecer, outro está doente, outro quer silêncio depois de um dia de muito labor, etc. Pessoa livre, por dentro, não depende dos seus apetites. Começa aí o seu diálogo de interação e respeito em ordem a gerir responsavelmente os múltiplos condicionalismos. É a isso que se chama liberdade humana, própria dos seres sócio-culturais.

Portanto, liberdade humana não é estar  livre de condicionalismos, mas a capacidade de os gerir bem, ou construtivamente. É, sim, a capacidade de discernir e decidir, entre múltiplos condicionalismos, que vem de dentro e de fora, e de várias alternativas, por forma a escolher o que for melhor. Escolher o melhor é ser livre. Ou seja, escolher o mais humano, entre pessoas e ocasiões, mesmo que isso exija renunciar ao meu apetite, é liberdade.

A liberdade de expressão verdadeira e respeitadora (das minhas e das tuas ideias) alcança-se quando o que digo (por palavra, gesto ou imagem) o posso fundamentar e oferecer criticamente uma alternativa que alarga as fronteiras e desafia em ordem a uma visão mais ampla do mundo e do futuro. Isto não foge ao debate. Antes, contribui para chegar a um progresso humano sempre que o modo como me expresso (com liberdade!) for humanamente construtivo, em ordem ao bem comum e na certeza de que a verdade nunca está toda só de um lado; mas, é a minha parcela mais a tua que nos permitirá avançar no conhecimento da realidade e no entendimento mútuo. O que for para além disso (ainda em nome da liberdade) são discussões sem saída, da minha razão contra a tua, que levam a agressões, incompreensões… fruto de imaturidades ou escravaturas emocionais ou ideológicas sem auto-crítica. Já que estamos nas vésperas de campanhas eleitorais, na Pérola do Índico, espero que haja verdadeira liberdade individual e de expressão.

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