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OPINIÃO

Cabo-Delgado e as mega-oportunidades: não acabam com a guerra excelências (?)

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Vou iniciar com um pequeno historial desconexo ao tema central, é uma estratégia de cansar os não leitores. Em Moçambique, o Mês de Outubro, tem muitos significados, pois está associado a muitos factos que,só, a história sabe conservar, ao mesmo tempo que devem ser indivíduos altamente atenciosos, para poderem estabelecer as respectivas conexões. Dos factos registados no Mês de Outubro, os mais salientes são: i) em 1977 foi instituída uma das mais mediáticas organizações profissionais, a Organização Nacional dos Professores (ONP); ii) em 1986 morreu o 1º Presidente de Moçambique Independente (Samora Moisés Machel), num acidente aéreo; iii) em 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz, que colocou termo até então, a mais sangrenta guerra interna do último século; iv) em 2017 foi morto um dos mais proeminentes autarcas que Moçambique já conheceu (Mahamudo Amurane). No mesmo ano, ou seja, no dia 5 de Outubro de 2017, na vila de Mocímboa da Praia, eclodiu esta guerra que, muitos no silêncio suplicam, fervorosamente, “não acabam com a guerra excelências“.

É sobre a guerra de 2017 que pretendo falar. Desde o factídico 05 de Outubro de 2017, nasceu uma onda jamais vista na história de Cabo-Delgado. A cidade de Pemba, para além de ser um dos maiores centros de acolhimento dos chamados deslocados internos, na verdade migrantes forçados, passou a ser um dos maiores centros de emprego para jovens e adultos, homens e mulheres, nacionais e estrangeiros, para além de alguns nativos que encontram restos de oportunidades menos relevantes, deixadas pelos VIENTES, na linguagem de jovens frustrados de Cabo-Delgado.

Se por um lado, circulam mensagens de indignação de pessoas de boa fé, dos que perderam seus parentes, dos que viram seus familiares serem escorraçados de suas próprias terras, dos que viram seus sonhos interrompidos, dos que tiveram suas famílias desintegradas, dos que têm suas vidas hipotecadas, dos que têm o futuro de seus parentes comprometido e a sua esperança de vida deteriorada, por outro lado, há gente que reza e invoca a DEUS MALIGNO e EXCELÊNCIAS (DES)EXCELENTES, que aquela guerra não acaba, pois a sua vida e de suas famílias vão se estagnar, sim, aquela guerra para esses oradores é único meio pelo qual as suas empresas e seus conhecimentos podem conseguir dinheiro para viver.

A guerra de Cabo-Delgado, para além de ser um fenómeno que remete a várias “metamorfoses” como considera Edgar Morin, na sua obra o pensamento complexo, (2003), foi “objectivada e ancorada,” pelos seus beneficiários como uma representação social qualquer, na perspectiva de Moscovici (1978). As metamorfoses permitiram que o bandidismo, a insurgência, a marginalidade, a perversão islâmica, extremismo violento, ganhasse um outro sentido, que durante a objetivação foi ancorado o conceito de terrorismo.

Foi a partir da ancoragem do terrorismo que, Cabo-Delgado na sua generalidade, especificamente, a cidade de Pemba passou a ser um centro de influência de Organizações internacionais, que aterrissam em cada dia, em cada semana e em cada Mês, carregada de gente altamente instruída, vinda de outros cantos do mundo e de Moçambique, para, supostamente, prestarem apoio. A Cidade de Pemba e os distritos menos atacados, se tornaram um campo de actuação de Organizações Não Governamentais de vários quadrantes.

Os donos de hotéis e pensões, estão enriquecendo pela procura de alojamentos luxuosos, os pequenos e médio empreendedores, lutam pela aquisição de viaturas de luxo, que são alugados aos milhões para as ONG`s internacionais, Jovens motoristas, correm, fazendo o averbamento de suas cartas de condução, para a categoria de Serviços Públicos, de modo a encaixar emprego nessas empresas ou organizações, que pululam em Pemba e Cabo-Delgado.

É assim, não é recomendável acabar com a guerra nem? Sim, penso que não é ÉTICO pensar em acabar aquela guerra, Excelências. Há mulheres e homens que deixaram de fazer filhos, noutras cidades deste belo Moçambique, porque estão nas correrias do emprego, que encontraram em Cabo-Delgado, fruto daquela guerra. Há sujeitos que já passeiam em cada final de semana numa cidade à sua escolha, porque trabalham em empresas que encontraram Cabo-Delgado, como oportunidade de auto-realização. Há empresas que nasceram e estão a prosperar, por causa daquela guerra de Cabo-Delgado. Há festas bombásticas de aniversários e casamentos, cuja fonte é aquela guerra de Cabo-Delgado. Portanto, pelos motivos, ora elencados, faz sentido (não) acabar com aquela guerra, Excelências? Muhikothihe.

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