OPINIÃO
Papel da Academia na conscientização sobre o espírito de Cidadania (I parte)
Vivemos um momento de grande vulnerabilidade sócio-económica e político-militar, no mundo e em África. Aliás, África, da qual Moçambique faz parte, é das grandes vítimas da precariedade e desemprego, do emprego temporário, das guerras fratricídas, da expolição dos seus recursos, enfim, do neoliberalismo e neocolonialismo. Por outras palavras, vivemos um tempo de crise de democracia, económica, política, ambiental, de identidade… crises essas que são geradoras de grandes desigualdades sociais.
Diante desse cenário nebuloso, qualquer um que se preze ser cidadão, não poder ficar feliz ou indiferente. Como afirma Stéphane Hessel (2011: 26), no seu livro Indignez-vous! (Indignai-vos), “a indiferença é a pior das atitudes humanas”. Defende que temos que nos comprometer a mudar a sociedade agindo de forma corajosa contra os problemas modernos. Por sua vez, o filósofo político italiano, Norberto Bobbio (1996:174), no seu livro Droite et Gauche, escreve que, “o dever do homem de cultura que não queira ficar indiferente ao drama do seu tempo é o de fazer explodir as contradições, desvelar os paradoxos que nos põem diante de problemas sem uma solução aparente e indicar as estradas sem saída”.
Hoje, diante dos problemas que grassam e desgraçam a mãe Africa, sobretudo a pátria amada – Moçambique (que algumas vezes é tramada, outras vezes mamada e, por fim, armada), infelizmente, parece que há um silêncio sepulcral de intelectuais e/ou académicos africanos, na sua intervenção social, como o eram os pan-africanistas Edward Du Bois, Marcus Garvey, Aimé Césaire, Kwame Nkrumah, Frantz Fanon, Patricie Lumumba, Ahmed Sekou Toure, Julius Nyerere, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Oliver Thambo, Amílcar Cabral, Nelson Mandela, Marcelino dos Santos, Joshua Nkomo, Koffi Anan, Jossias Tongogara, entre outros. Bem, há que trazer algumas excepções: Professores Lumumba – jurista e activista queniano, Severino Ngoenha, Brazão Mazula, Adriano Nuvunga…
Então, quais são as alternativas face aos problemas actuais, sobremaneira a luta contra a dependência económica (pois a nossa independência não é total e completa, como foi proclamada há 49 anos), contra a cleptocracia (o poder do roubo, ou a corrupção), contra o neocolonialismo e/ou o neoliberalismo? É aqui onde académicos e/ou intelectuais africanos/moçambicanos, são chamados a pensar e agir, assim como o fizeram, no passado, os grandes pan-africanistas, dos quais fiz referência.
As perguntas que pairam em muitos de nós é: a que se deve a falta desta epopeia libertadora/libertária, que caracterizou os pan-africanistas? Será por medo? Medo de quê? Será a manifestação do adágio: vale mais ser cobarde (vivo) do que herói/mártir (morto)?
Estar-se-á em crise de “gnosis” “episteme” (conhecimento), ou medo de responsabilidade académica/intelectual (procurar a verdade e comunicá-la), ou, então, estar-se-á na época da cumplicidade com os poderes/sistemas instituídos/instalados (políticos, governamentais, militares, religiosos, tradicionais…) como o fizeram alguns régulos no passado, ou no tempo colonial?
Aliás, Thandika Mkandawire (2005), intelectual e economista malawiano, que foi professor e responsável pela cátedra de desenvolvimento africano na London School of Economics (Inglaterra), no seu artigo Targeting and universalism in developing countries afirma que o “silêncio dos intelectuais africanos perante as injustiças praticadas em África denuncia a sua cumplicidade”. Por seu turno, quando o Professor Brazão Mazula (2017), no seu livro “De Messumba à UEM: um percurso académico”, afirma que “um académico não militante vira um míope histórico, que só vive perto, fechado em si mesmo, incapaz de enxergar os desafios sociais do futuro“, lembra-nos a célebre frase de Edgar Morin (2000), antropólogo, sociólogo e filósofo francês, segunda a qual, “um puro saber operacional é somente a ruína da alma“.
Portanto, respeitáveis membros desta comunidade académica, hoje do que ontem, é imperioso (imperativo categórico, usando as palavras do filosofo Immanuel Kant) que haja debate democrático rumo a uma sociedade mais justa, equitativa, ou seja, de bem-estar, o que exige o espírito de cidadania, i.e., de participação profícua e proactiva de todos cidadãos, no que diz respeito aos problemas ou questões que têm que ver com “res publica” (Bem comum), sobremaneira dos que têm a graça ou privilégio do “gnosis” ou da “episteme” (conhecimento), refiro-me aos académicos e/ou intelectuais, ou seja, a todos e a cada um de nós aqui presentes e não presentes.
Para o bem-estar social urge dizer a verdade ou desconstruir idiossincrasias sejam de que ordem (política, religiosa, económica, tradicional, jurídica…) com conhecimento. Então, a reflexão, a pesquisa, a produção científica, que é feita nas academias, deve ser colocada ao serviço da sociedade, no âmbito da extensão e, sobretudo da inovação, que são alguns dos pilares da tríade universitária: Pesquisa, Ensino e extensão/inovação.
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Alexandre Mecas
Setembro 23, 2024 at 6:55 am
Meu comentário seria que a academia desempenha um papel fundamental na construção e avanço do conhecimento, mas também tem a responsabilidade de aproximar a teoria da prática, incentivando a inovação e o pensamento crítico. Ela deve não apenas formar profissionais, mas também cidadãos conscientes que podem usar o conhecimento de forma transformadora para enfrentar desafios sociais, ambientais e econômicos. Além disso, é essencial que a academia seja um espaço inclusivo e acessível, onde diversas vozes possam contribuir para um saber mais abrangente e plural.