OPINIÃO
Não temos sistema

“Não temos sistema.” Três palavras que carregam o peso de anos de descaso, improviso e negligência. Ouvi-las deveria ser raro, mas no nosso dia a dia, transformou-se em rotina. Entrar num balcão público, num registo notarial ou num cartório e ouvir isso é quase inevitável. E o que se sente nesse momento é mais que frustração: é a certeza de que o país funciona à base de improviso, atalhos e paciência do cidadão.
Nos cartórios, por exemplo, a situação se repete: filas intermináveis, papéis incompletos, funcionários confusos e sistemas que não funcionam. O cidadão entrega documentos, espera e… nada. A resposta vem, como se fosse normal: “Não temos sistema.” Uma sentença que congela negócios, bloqueia vidas, atrasa sonhos. Diplomas, certidões, contratos, propriedades: tudo fica à mercê da improvisação.
O problema não é só tecnológico. Criou-se um país onde a desorganização virou regra, e a responsabilidade é sempre do outro. Espera-se que o cidadão se adapte, que ele compreenda atrasos, carimbos que desaparecem, formulários errados. Mas o que ele recebe em troca é a repetição: “Não temos sistema.” E assim, ano após ano, geração após geração, vemos vidas perdendo tempo, oportunidades e confiança naquilo que deveria funcionar.
O impacto é profundo. Empresas que não conseguem formalizar contratos, estudantes impedidos de validar diplomas, famílias esperando meses por documentos que deveriam ser simples de obter. Cada “não temos sistema” é uma porta fechada, um futuro adiado, uma vida parada. É a prova de que, enquanto não houver organização, treinamento e responsabilidade, nada mudará.
Um sistema não é apenas tecnologia ou carimbos. É confiança. É eficiência. É justiça. É a certeza de que o cidadão será tratado com dignidade e que seu tempo tem valor. Até que isso se entenda, continuaremos a ouvir e a sentir a mesma frase. E continuaremos a sofrer com suas consequências.
Enquanto não houver mudança estrutural, enquanto não houver compromisso real com a organização, cada carimbo atrasado será um reflexo do que somos: um país que ainda não aprendeu a funcionar.
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