SOCIEDADE
Nampula sem vagas para os mortos nos cemitérios comunitários
Os Cemitérios comunitários da cidade de Nampula enfrentam dificuldades com a falta de espaço, resultando na sobreposição de túmulos devido à prática de sepultamentos familiares, mesmo com espaços disponíveis nos cemitérios públicos.
O Rigor constatou, por meio de um trabalho realizado na área urbana, que nos bairros de Napipine, Mutauanha e Murrapaniua, existe a sobreposição de sepulturas nos cemitérios comunitários. Ademais, a criação desses cemitérios, segundo apuramos, tem origem familiar e, com o passar do tempo, passaram a receber outras famílias que desejavam enterrar os corpos de seus entes queridos, contrariando, assim, a ideia de serem cemitérios exclusivos para determinadas famílias.
Por outro lado, muitas famílias que se recusaram a participar da entrevista alegaram que a maioria dos cemitérios municipais está localizada em áreas distantes, fazendo com que as pessoas prefiram utilizar cemitérios comunitários ou familiares mais próximos de suas residências.
Os aspectos relacionados ao transporte causam impacto, visto que em Nampula é comum a família carregar um caixão até o cemitério. Seria desafiador para um parente em Napipine ter que levar seu familiar para Lourenço, que fica a pouco mais de dez quilómetros de distância.
Em Mutauanha, especialmente na Unidade Comunal 7 de Setembro, deparamo-nos com o secretário do quarteirão número 8, onde se localiza o cemitério de Ntotha. Durante uma entrevista, Norberto Luís explicou que o cemitério do Ntotha está presente há várias décadas e que anteriormente só eram sepultados os falecidos pertencentes à família Ntotha, que foi uma das primeiras a habitar na região onde se encontra a Paróquia de São João de Deus, da Igreja Católica.
O chefe do quarteirão diz que a sobreposição de sepulturas ocorre porque o cemitério não é utilizado exclusivamente pelos residentes. Com o passar dos anos, pessoas de outras regiões começaram a enterrar seus entes queridos no local.
“O governo e o padre da Paróquia São João de Deus, já comunicaram à população que o local não possui mais espaço e que devem procurar outro lugar. No entanto, como nem todos respeitam isso, torna-se difícil controlar a situação. Às vezes, encontramos pessoas a cavar sepulturas e, ao questioná-las, afirmam que estão seguindo a tradição de enterrar seus familiares ali”, precisou Norberto Luís.
Encontramos uma situação semelhante num outro cemitério, na mesma zona, especificamente no quarteirão 9. Nossa equipe de reportagem conversou com Horácio Santos, secretário daquela área, que afirmou que o local não tem espaço e está lotado há mais de 5 anos, no entanto, há um conflito entre a comunidade e os líderes comunitários que impede sepultamentos.
“Aqui há grande disputa de lugar, o meu terreno era grande, mas por viver perto do cemitério fui obrigado a reduzir para dar espaço às campas. Por exemplo, hoje foi enterrada uma pessoa, mas as pessoas já não reconhecem que o cemitério já está cheio, o que eles fazem sempre é sobrepor corpo a outro corpo. ʺ
Na unidade comunal de Josina Machel, localizada no bairro de Napipine, o Rigor teve uma conversa com o chefe adjunto Piude Evágio. Ele informou que o Cemitério Comunitário de Wanakaleque tem enfrentado superlotação, levando a situações em que os túmulos são sobrepostos.
“Existem sepulturas sobrepostas, uma vez que se trata de um cemitério antigo e algumas famílias não aparecem regularmente para fazer a manutenção. Por isso, outras pessoas aproveitam e cavam sobre as antigas sepulturas. A situação é triste nesse cemitério.” explica, acrescentando.
“Pensamos em encerrar as sepulturas neste cemitério, pois constatamos não haver mais espaço disponível. O que faremos quando se tratar de alguém com um familiar cujo corpo está lá e deve ser enterrado? No entanto, para aqueles que vêm de longe, informamos não haver mais espaço disponível, mas os vizinhos não temos como”, disse, Pinga Mário, um dos gestores do cemitério comunitário de Naquipeche, entrevistado em Murrapaniua, na unidade comunal do mesmo nome, nos arredores de Nampula. Os gestores do cemitério de Naquipeche elaboraram um requerimento às autoridades locais, solicitando apoio para a construção de um muro de vedação que evite novos sepultamentos.
Segundo os relatos dos entrevistados, a sobreposição de túmulos está relacionada muitas vezes à ausência de manutenção e visitas regulares aos entes queridos, possibilitando que outros utilizem os espaços para sepultar seus familiares.
O Conselho Municipal de Nampula, representado pelo Vereador de Salubridade e Gestão Funerária, Assane Ussene, enfatizou que a prática de sobreposição de sepulturas não está relacionada à escassez de espaço, pois o Município dispõe do cemitério municipal, como é o caso do Lourenço, que está desocupado, além dos cemitérios Velho e da Faina, que ainda possuem espaços disponíveis. Vânia Jacinto
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