DESTAQUE
Desmaios de alunos da Secundária da Barragem evidenciam falta de diálogo entre escola e comunidade

A falta de coordenação entre a direcção da Escola Secundária da Barragem, em Nampula, e os líderes comunitários, é apontada como a razão dos frequentes desmaios de alunos.
A ocorrência de desmaios durante as aulas, especialmente em dias de provas, está se tornando cada vez mais comum, resultando na perda de avaliações e na ausência das crianças em sala de aula devido ao desmaio, deixando-as afastadas por até duas semanas.
Durante uma pesquisa realizada pelo Rigor, com o objectivo de desvendar as causas de tal cenário, foi constatado que os desmaios acontecem devido à ausência de cooperação entre a administração da escola e as autoridades locais. Aliás, os líderes acusam a direcção da escola de falta de transparência na gestão dos problemas que afectam a escola.
Tanto os moradores próximos às escolas, quanto os líderes comunitários, afirmam haver falta de coordenação, além da ausência de rituais anuais durante as cerimónias de abertura dos anos lectivos escolares.
“Os antepassados que viviam no local onde a escola secundária da barragem se localiza, exigem cerimónias anualmente”, começou por afirmar em entrevista ao Rigor, Arnaldo Jaime, o régulo Murreveia e continua:
“Tenho acompanhado de forma frequente com a minha filha, que na Escola costuma a cair alunos, mas a direcção da escola nunca veio para me informar sobre esta situação. Eu não posso ir lá, sem ser chamado, a escola tem dirigentes”, considera.
Régulo Murreveia, que tem residência a cerca de 2,5 quilómetros da escola, afirma que a solução para questões semelhantes é muito simples. Para ele, a falta de rituais tradicionais é a causa, e a melhor maneira de resolver é segui-los correctamente.
“Para resolver uma vez para sempre este problema é necessário que a Escola Secundária da Barragem, imita as outras escolas e realizar cerimónias todos os anos, logo no princípio, para agradar os espíritos”, sugere o régulo Murreveia, explicando que em outras instituições de ensino do regulado, há ocorrências de cerimónias frequentes e os casos de desmaio são raros.
Nos arredores das escolas, os moradores próximos, incluindo o secretário do quarteirão, também atribuem os constantes desmaios a falta de diálogo entre a direcção da escola com as autoridades locais.
Jamal Mopueteia, secretário do Quarteirão, afirma que a falta de comunicação entre a direcção da escola Secundária da Barragem e os líderes locais é a raiz dos problemas enfrentados. Segundo ele, quando ocorrem situações críticas na escola, as decisões são tomadas sem a participação dos líderes locais que deveriam ser envolvidos em actividades.
Jamal tem a convicção de que os desmaios podem diminuir se o régulo Murreveia for convidado a conduzir rituais com as outras lideranças locais, pois segundo as suas palavras, são estes líderes que têm conhecimento do que existia naquele local, antes da escola ser construída.
“A direcção da escola é que não coordena com os líderes. Esta é a verdade, não há mais nada. Não há espírito mau, é somente falta de coordenação. Quando num lugar existem essas lideranças, é preciso aprofundar, os régulos é que sabem os secretos da zona”, disse e continua:
“Quando os alunos caem não recorrem ao régulo, o dono da área, fazem algumas orações e até maqueia entre eles, nós ficamos apenas a olhar, uma vez que não somos perguntados o que fazer. Eu nunca vi a presença do régulo e a situação nunca acaba. É preciso o régulo estar ali para fazer maqueia”, disse.
Os moradores locais também se queixam de falta de diálogo e de vontade com a direcção da escola.
“Quando os alunos começaram a cair vieram me convidar para participar de uma cerimónia. Esta cerimónia que eu fui participar era iniciativa dos próprios alunos, eles quando sentiram desmaiarem com muita frequência, decidiram contribuir para realizar uma cerimónia. Diminuiu um pouco, mas agora voltou a acontecer. Desde o mês passado os alunos caíram muito”, conta.
Conforme o director da Escola Secundária da Barragem, Juma Sumalgi demonstrou inquietação com a situação dos desmaios que ocorrem na instituição que dirige.
“Este é um problema que começamos a registar a sensivelmente dois anos. Numa primeira fase, ultrapassamos recorrendo às autoridades locais, já que a escola está inserida numa sociedade e a mesma pertence a essa sociedade. Tínhamos que interagir com o cabo por intermédio do Sr. régulo Murreveia junto dos pais e encarregados de educação e fizemos um trabalho”, começou por explicar o director da Escola Secundária da Barragem, Juma Sumalgi, explicando que após um período de tranquilidade, os desmaios voltaram a ocorrer, com efeitos desde a semana passada.
“Ficamos surpreendidos na semana passada, onde tivemos algumas quedas. Solicitamos ao Conselho de Escola e a alguns pais para vermos o que podemos fazer, porque a situação mostra-se que ainda não está ultrapassada. O Conselho de Escola disse que não valeria a pena apostarmos nos ritos tradicionais porque sempre os espíritos iriam pedir o sangue como foi o caso da primeira cerimónia onde tivemos cabrito e comida, mas sim convidar algumas igrejas e mesquitas para realizar o trabalho”, afirmou o director, exibindo sinais de preocupação em relação aos desmaios.
Segundo o director da Escola Secundária da Barragem, os desmaios prejudicam não apenas o decurso normal das aulas, como também afectaram negativamente a participação Escola, durante a realização do XV Festival dos Jogos Desportivos Escolares, com casos de alunos da escola a desmaiar em pleno festival.
“Esta situação também verificou-se para nossa equipe de jogos escolares, feminino. Estavam em Anchilo, mas não conseguiram realizar os jogos, pois andavam a desmaiar, o que nos leva a crer que se tratar de questões espirituais”, afirmou o director.
Ele explica que mesmo assim, o Conselho de escola optou por deliberar a realização de uma cerimónia religiosa em vez da cerimónia tradicional, justificando que “não se combate o Satanás com o Satanás”, numa clara referência de que as cerimónias tradicionais são satânicas.
Quanto à suposta falta de coordenação entre a direcção da escola com os líderes comunitários, o director da Escola Secundária da Barragem, preferiu não se pronunciar. No entanto, ele informou que em 2022 ocorreu uma cerimónia tradicional, na qual o régulo Murreveia foi representado pelo Cabo Mutxaia. Nelton de Sousa
-
CULTURA7 meses atrás
Victor Maquina faz sua estreia literária com “metamorfoses da terra”
-
SOCIEDADE10 meses atrás
Isaura Nyusi é laureada por sua incansável ajuda aos mais necessitados e recebe título de Doutora
-
DESPORTO7 meses atrás
Reviravolta no Campeonato Provincial de Futebol: Omhipithi FC é promovido ao segundo lugar após nova avaliação
-
OPINIÃO9 meses atrás
O homem que só gostava de impala
-
OPINIÃO10 meses atrás
Do viés Partidocrático à Democracia (Participativa)
-
DESTAQUE12 meses atrás
Aumenta número de estabelecimentos clandestinos de apostas na cidade de Nampula.
-
SOCIEDADE4 meses atrás
Governador de Nampula ordena retirada urgente de obstáculos ao redor da residência oficial
-
OPINIÃO9 meses atrás
A Cidade Vermelha