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Cidadãos sofrem com a falta de remédios nas unidades sanitárias em Nampula
Após a denúncia da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) sobre a escassez de suprimentos médicos e hospitalares, bem como de remédios, em muitas unidades de saúde do país, especialmente em Nampula, os utentes enfrentam a falta de medicamentos para tratar diversas doenças.
Na maioria das unidades de saúde não há disponibilidade de remédios para tratar a conjuntivite hemorrágica, febres e tosses. Os pacientes estão sendo forçados a buscar em farmácias privadas onde os medicamentos são vendidos a preços elevados. Em algumas situações, o Rigor constactou que devido à falta de medicamentos, pacientes com conjuntivite hemorrágica recorrem a métodos impróprios, o que não é aconselhado.
Actualmente, 23 pacientes estão sob cuidados médicos no Hospital Central de Nampula devido a complicações decorrentes de conjuntivite hemorrágica. Destes casos, 10 resultaram em cegueira irreversível, sendo sete afectando um dos olhos e 3 ambos os olhos.
“Apesar da diminuição no número de novos casos de conjuntivite hemorrágica nos últimos dias, continuamos a receber pacientes com complicações graves, na maioria devido à prática de automedicação”, disse nesta quarta-feira (01) Sulaimana Isidoro, porta-voz do Hospital Central de Nampula.
Além dos remédios, as unidades sanitárias carecem de materiais administrativos, como, por exemplo, as prescrições são feitas em folhas simples e frequentemente já usadas.
“Sempre que venho a este posto de saúde, a situação é a mesma, falta de remédios. Hoje estou no Centro de Saúde de Muhala-expansão, trouxe meu filho doente, e recebi prescrição de paracetamol em xarope, amoxicilina, porém na farmácia não tem disponível. Por isso vou directamente para uma farmácia particular, mesmo sendo difícil, mas não tenho outra opção, os xaropes nas farmácias privadas são muito caros, a partir de 200 meticais”. Essas foram as palavras de Tina, nome fictício de uma paciente que também comentou sobre a situação do Centro de Saúde de Muhala-expansão: “A própria receita que me deram mostra que este hospital está com dificuldades. Veja só, o papel está bem usado, é de terceira mão”.
Outra entrevistada, que não quis ser identificada, estava com conjuntivite hemorrágica, foi até uma farmácia particular para comprar remédios para seu tratamento, já que o hospital público não era possivel.
Roa, outro nome fictício, relatou que sua esposa Zita enfrenta complicações de conjuntivite hemorrágica e que o médico recomendou iniciar o tratamento o quanto antes. “Ao tentar adquirir os medicamentos na farmácia, perceberemos que todos os remédios receitados estão em falta, incluindo o fenox. A única opção disponível na farmácia era o paracetamol”.
No Hospital Central de Nampula, a mãe de uma paciente com sintomas de conjuntivite hemorrágica visitou todas as farmácias, porém não encontrou os remédios necessários, sendo aconselhada a comprar numa farmácia privada.
“A minha filha está com conjuntivite hemorrágica, e fui receitada alguns medicamentos, e na farmácia tive o ibuprofeno e os restantes dos medicamentos não têm, as quotas não existem para o tratamento da própria doença, daí me falaram para comprar na farmácia privada, não tenho dinheiro, mas vou procurar, porque os medicamentos são necessários”.
A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique divulgou recentemente um comunicado classificando a escassez de medicamentos como um grave problema que afecta as unidades de saúde em todo o país.
Os médicos dizem que faltam nos hospitais luvas, máscaras, seringas, agulhas, cateteres, papel para impressão de documentos médicos e resultados de exames. Além disso, os profissionais de saúde relatam que os laboratórios estão sem reagentes, as ambulâncias não têm combustíveis para transportar os pacientes, e há falta de alimentos e roupas hospitalares para as camas.
A médica chefe provincial de Nampula, Celma Xavier, afirma não haver escassez de medicamentos essenciais nas unidades de saúde da região. Durante uma entrevista realizada no depósito de medicamentos para mostrar a disponibilidade dos mesmos, a fonte garantiu que a província possui uma quantidade adequada de remédios, incluindo os utilizados no tratamento da malária, conjuntivite e outras doenças. No entanto, disse que era curioso notar que a realidade nas unidades de saúde é bastante diferente.
Xavier afirma que em nenhum momento faltaram medicamentos em todos os serviços de saúde na província de Nampula. Ela explica que a ausência de certos remédios em uma prescrição médica se deve à má administração dos responsáveis pelo armazenamento de medicamentos, que não realizam a monitoria adequada do stock.
“Jamais enfrentamos dificuldades de remédios para tratar a conjuntivite hemorrágica. Apesar de, inicialmente, não termos tantos pacientes como hoje em dia, há duas semanas conseguimos obter um stock de remédios para tratar essa condição, com o apoio de parceiros. Quanto ao problema da falta de gesso, este é um dilema nacional, pois as quantidades recebidas não são suficientes para atender à demanda dos pacientes que chegam às unidades de saúde. Recebemos a informação de que o armazém regional já recebeu o material, porém ainda não foi disponibilizado em quantidade suficiente no depósito provincial”.
Segundo a fonte, a maioria dos desafios relacionados à escassez de remédios reportados pelos pacientes está relacionada à má administração de estoques pelos responsáveis das unidades de saúde.
“Durante o período compreendido entre o dia 5 e o dia 15 de cada mês, efectuamos a reposição dos medicamentos, assegurando o abastecimento nas unidades de saúde. Portanto, se um paciente visitar uma unidade sanitária e não encontrar esses remédios, está relacionado à própria unidade.”
A médica chefe provincial solicita a colaboração dos pacientes para informar imediatamente as autoridades caso percebam a falta de medicamentos para que se possam tomar medidas.
“Recebemos recentemente do centro de Saúde 1 de Maio uma denúncia de falta de medicamentos. Fomos até o centro para investigar o que acontecia e descobrimos que os medicamentos estavam disponíveis, porém não foram encaminhados para o sector de farmácia, o que resultou em uma falha de comunicação”, explicou. Ela acrescentou que “Sempre tentamos manter diálogo com os colegas e todas as unidades de saúde possuem números de contrato para qualquer reclamação. No entanto, os pacientes não utilizam esses contactos para nos informar sobre o que está acontecendo. Se utilizassem os números para nos passar essas informações, creio que poderíamos resolver esses problemas rapidamente”. Elina Eciate e Raufa Faizal
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