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Alírio João:“O Secretário de Estado usou o poder de forma abusiva ao mandar-me prender sem justificativa plausível”
Alírio João, o exemplar colaborador das Alfândegas de Nampula, detido, na semana passada, a mando do Secretário de Estado na Província de Nampula, Jaime Neto, em uma entrevista concedida ao Rigor, narra os detalhes de sua detenção. Segundo Alírio, ele teria se recusado a atender a ligação de Jaime Neto e isso o deixou irritado.
“Recusei a ligação, explicando que não era a pessoa apropriada, para conversar com um alto dirigente da província. Sugeri que ele falasse com os meus superiores hierárquicos, como a delegada, o director provincial, o chefe das operações, entre outros. Também esclareci que o chefe do Posto de Controlo número um, não era um funcionário das Alfândegas.”
Alírio João, afirma estar chateado com a humilhação, sujeita por ter simplesmente cumprido exemplarmente o seu trabalho. Entre outros, na entrevista conta as péssimas condições de reclusão, até a sua soltura, por insuficiência de elementos para a sua detenção.
Leia, abaixo, a entrevista na íntegra.
Jornal Rigor (JR):O que teria feito para justificar a tal prisão?
Alírio João (AJ): Apareceu um indivíduo sendo transportado por uma viatura Toyota Hilux, dirigiu-se ao chefe do Posto de Trânsito, solicitando autorização para fotografar os carros apreendidos. Ao abordá-lo, saudei-o e perguntei como poderia ajudar, ele respondeu desejar tirar fotos e pedi alguma documentação oficial da Autoridade Tributária, para autorização, a qual ele afirmou não possuir. Alegou ser Ajudante de Campo (AdC), do Secretário de Estado na Província de Nampula. Expliquei que sem documentação não era possível fotografar, pois era necessário identificação. Após isso, ele procurou o chefe da Polícia de Trânsito, para explicar que eu, o havia impedido de realizar as fotografias.
Fui chamado pelo chefe do Posto, para explicar a razão da proibição de tirar fotos. Expliquei que as regras para fotografar, as viaturas apreendidas incluem a necessidade de um documento da minha instituição autorizando essa acção.
JR:Isso foi o bastante para justificar a sua prisão?
AJ: Depois desse impedimento, o AdC do Secretário de Estado em Nampula, resolve telefonar para o Secretário de Estado. Este, por sua vez, tentou falar comigo, mas recusei a ligação, explicando que não era a pessoa apropriada para conversar com um alto dirigente da província. Sugeri que ele falasse com os meus superiores hierárquicos, como a delegada, o director provincial, o chefe das operações, entre outros. Também esclareci que o chefe do Posto de Controlo número um, não era um funcionário das Alfândegas. Após a recusa, o AdC informou o Secretário de Estado, que aparentemente ficou furioso comigo. Ele então enviou seis agentes da polícia, transportados numa Mahindra, para me levar ao Comando Provincial da PRM. Ao questionar o motivo, eles apenas disseram que eu, deveria acompanhá-los para ouvir lá. Pedi para falar com o meu chefe do posto, mas eles negaram e insistiram que eu poderia fazer a chamada no Comando.
JR:Depois desses acontecimentos, o que mais se sucedeu?
AJ: Fui conduzido ao Comando Provincial da Polícia, onde passei por um procedimento de identificação. Por volta das 19 horas, fui preso. Ainda trajando meu uniforme, me vi em uma situação precária, deitado em uma cama de papelão em pedaços.
Um chão cheio de fezes e a minha única companhia eram ratos. A almofada era formada por pratos e tigelas descartáveis amarrados em um saco plástico.
Quando o meu chefe das operações, percebeu o que havia ocorrido, vieram-me tirar da cela para prestar esclarecimentos, detalhando o que havia acontecido. Ele [meu chefe] ficou irritado, então ele e a direcção decidiram resolver a questão. No dia seguinte, que era Domingo, a situação continuou a mesma, fui visitado pelos meus chefes. Na Segunda-feira, chegou a minha chefia, enviada pelo director da região Norte, para analisar a situação e tomar providências. Fui chamado, expliquei o que aconteceu, todos ficaram muito irritados com a atitude do Secretário de Estado.
JR:Quais são as lembranças mais vivas desse momento?
AJ: Recebi acompanhamento dos meus superiores durante todo o processo, quando o caso chegou ao Tribunal, a juíza analisou os documentos e declarou que não havia base para aquela situação. Percebi que ela também não gostou da forma como fui detido ilegalmente e sem justificativa, resultando na minha libertação em 26 de Agosto de 2024. Assim se desenrolou o episódio da minha prisão.
JR: Qual a interpretação que atribui a esta prisão?
AJ: Na realidade, neste país, são os chefes que detêm o poder de criar e modificar leis, muitas vezes abusando o pobre coitado. Portanto, considero que o Secretário de Estado, usou o poder de forma abusiva ao me mandar prender, sem justificativa plausível, simplesmente por ocupar uma posição de destaque na hierarquia política estatal.
JR:Esta prisão de alguma maneira lhe irá fazer reconsiderar o seu método de trabalho?
AJ: Essa prisão afectou a minha personalidade, porém, estou determinado a contribuir para o desenvolvimento de Moçambique, demonstrando minhas qualidades e valores com ética, humildade e respeito no ambiente de trabalho em prol do país.
JR: Quais mensagens deseja transmitir aos cidadãos moçambicanos e/ou aos dirigentes do nosso país?
AJ: Em relação aos chefes da nação moçambicana, eu gostaria de pedir que pudessem parar e reflectir sobre, em que país estamos, há quanto tempo estamos aqui, em que situação e posição nos encontramos como país. É preocupante quando as leis são feitas e não são cumpridas. Precisamos nos esforçar para garantir que as leis, sejam cumpridas como deveriam.
E não levar o país, como se fosse um país sem democracia, temos que respeitar os direitos do ser humano, não podemos levar as coisas porque estamos no topo. Prontos, não devíamos fazer e desfazer, ferir a sensibilidade de algumas pessoas, lembrem-se que, seja dirigente, seja quem for, neste Mundo, estamos de passagem, pode fazer e desfazer, mas um dia, se for que Deus é justo, cada um vai responder pelos seus actos. Raufa Faizal
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