OPINIÃO
A geração do amor descartável

Vivemos numa geração em que o amor já não é mais sagrado, nem guardado com o mesmo cuidado de antes. O que antes era compromisso, respeito e entrega, hoje virou passatempo, espetáculo e moda. O amor transformou-se em algo descartável, como uma garrafa plástica que, depois de usada, é jogada fora sem peso na consciência.
Magoar alguém deixou de ser pecado e passou a ser brincadeira. As palavras, que antes tinham força de cura ou de destruição, hoje são jogadas ao vento como se nada valessem. Um coração ferido já não é motivo de arrependimento, mas sim de gargalhadas entre amigos. É triste perceber que a dor do outro deixou de ter valor, como se sentimentos fossem apenas acessórios de uma relação, que podem ser trocados quando não servem mais.
Pior ainda é ver que bater na namorada é tratado como disciplina. Num mundo que se diz moderno, avançado, cheio de discursos sobre direitos e igualdade, ainda há quem acredite que a violência é forma de amor. Chamam de “educar”, mas não passa de crueldade. Onde não há respeito, não há amor. Quem levanta a mão contra quem diz amar, já perdeu a essência do que é ser humano.
Também vivemos numa sociedade onde a nudez virou moda. Não é apenas o corpo que se despe, mas também a dignidade. A busca por atenção, curtidas e aplausos rápidos transformou o que deveria ser intimidade em espetáculo barato. O corpo deixou de ser templo e passou a ser mercadoria. Já não se preserva o mistério, já não se valoriza o pudor. Tudo está exposto, tudo é entregue, como se mostrar-se fosse a única forma de existir.
E quando falamos de fidelidade, parece que ela se tornou artigo raro. Trair virou parte da relação, como se fosse natural, como se fosse obrigatório para provar que ainda se é “desejado”. A traição já não causa vergonha, mas sim orgulho em rodas de conversa. E quem sofre com isso, muitas vezes é calado, obrigado a aceitar, porque “todos fazem”. O amor perdeu o peso da exclusividade e virou experiência partilhada com qualquer um.
Essa geração trata o amor como brinquedo. Relacionamentos começam com promessas grandes e morrem no mesmo dia em que surgem, porque o compromisso assusta. É mais fácil usar alguém para matar a solidão do que construir uma história verdadeira. É mais simples abandonar do que lutar.
Mas a verdade é que, por trás dessa modernidade e dessa “normalidade” imposta, há um vazio enorme. O coração humano não foi feito para viver de descartáveis. Foi feito para se apegar, para criar raízes, para encontrar sentido no outro. O que hoje se chama de “liberdade” muitas vezes é só solidão disfarçada. O que se chama de “diversão” é, na realidade, dor escondida.
O amor não é descartável. Nós é que o transformámos nisso. Nós é que o usamos mal, o reduzimos a jogos e a modas. O amor continua puro, verdadeiro e eterno — mas poucos querem vivê-lo assim, porque exige sacrifício, exige paciência, exige renúncia, exige respeito.
E enquanto fingirmos que magoar é brincadeira, que bater é disciplina, que nudez é moda e que trair faz parte da relação, continuaremos a ser uma geração perdida. Uma geração que se esqueceu de amar.
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