SOCIEDADE
Tomás Castelo alerta que a superstição e falta de educação é a receita para a desinformação sobre a cólera em Nampula

O académico Tomás Castelo, adverte que a crença predominante nas superstições entre a maioria da população da província de Nampula, especialmente nas áreas rurais, aliada à escassez de educação formal, cria um contexto propício para a desinformação acerca da cólera, um desafio recorrente na região.
Graduado em Comunicação e Marketing, Tomás Castelo, afirma que esses dois factores associaciam-se à escassez de informações sobre a prevenção de doenças diarreicas.
“Percebe-se que essas questões de desinformação se tornam evidentes quando a chuva começa, e essas pessoas, na realidade, utilizam água contaminada. No entanto, a falta de informação está ligada, em primeiro lugar, ao facto de que estamos diante de um grupo de indivíduos que não tiveram acesso à educação, que baseiam suas crenças, na maioria, na superstição ou em rumores. Basta que alguém mencione que algo semelhante ocorreu anteriormente e que um certo grupo está envolvido para que todos acreditem nisso”, afirmou, prosseguindo:
“Acredito que os membros dessas comunidades rurais não têm acesso a informações de qualidade, por enfrentarem dificuldades em consumir esse tipo de informação, como a incapacidade de ler. O que eles sabem vem apenas do que ouviram, e como se diz de maneira popular, ouvir dizer não se transforma em um registo escrito; esse é, para mim, um grande desafio”, comentou Castelo. Ele acrescentou ainda que, devido a essa situação, “quando os profissionais de saúde recomendam, por exemplo, produtos como Javel ou Certeza para purificação da água, essas pessoas não conseguem ler os rótulos dos frascos e, portanto, não compreendem a composição da substância que estão prestes a utilizar na purificação da água”.
O analista faz uma analogia entre a desinformação a respeito da cólera e a temática da morte. Ele menciona que, em várias culturas, existe a crença de que os indivíduos não apenas morrem, mas são, de facto, mortos. Segundo a sua observação, nessas sociedades, quando ocorre um falecimento, a família ou a comunidade sempre busca um responsável, o que é impulsionado por um certo nível de desinformação.
O académico afirma que, para resolver essa questão, é fundamental priorizar a alfabetização das pessoas. Além disso, fornecê-las com informações confiáveis e de qualidade pode contribuir para a transformação de seus comportamentos.
“Nos exercícios de leitura disponíveis para essa pessoa ao longo de sua formação ou desenvolvimento literário, é essencial que haja conteúdos que promovam a cidadania, permitindo que ela interprete os acontecimentos baseando-se em suas próprias leituras, em vez de apenas em relatos de terceiros.”
Entretanto, Tomás Castelo aponta que o governo precisa melhorar a disponibilidade e o acesso à água potável.
“A água desempenha um papel crucial, sendo a via inicial para a transmissão de diversas doenças, seguida pela alimentação. Portanto, muitas enfermidades são disseminadas por meio da água e dos alimentos. Como esses recursos são essenciais para a nossa existência diária precisamos ingerir água e nos alimentar, se a qualidade da água e dos alimentos não for adequada, estamos expostos a um elevado risco de contrair diversas doenças, como a cólera, por exemplo. Isso explica a revolta da população em relação às autoridades de saúde”, afirmou o analista, que também destacou a higiene como um factor importante na contaminação associada a essa enfermidade. Redacção
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