Connect with us

POLÍTICA

Papel da Academia na conscientização sobre o espírito de Cidadania (última parte)

Publicado há

aos

Todavia, é preciso clarificar que, embora a democracia participativa seja incontornável no processo de Boa governação, não significa que a representativa já não faça sentido, ou seja excluída. Nada disso. Simplesmente, queremos dizer que é imperativo a sua combinação, pois são complementares. Esta complementaridade implica uma articulação mais profunda entre a democracia representativa (que formula/emana leis e as fiscaliza) e a democracia participativa (da qual as leis devem ter a sua origem e sustentáculo). O povo deve ser, de facto, “o patrão”, como advoga o Alto Magistrado da Nação, Filipe Jacinto Nyusi. O Parlamento é, sim, necessário para emanar leis que governam a sociedade, pois “ubi societas ibi ius” (onde há sociedade deve haver leis). Todavia, essas leis devem ser fruto da vontade da sociedade e não pura e simplesmente dos partidos.  Os deputados devem ser a “vox populi” (voz do povo, da “demos”) e não a dos partidos. Para tal, a condição sine qua non para a concretização da democracia participativa é a cidadania ou é a participação política, isto é, a participação na discussão dos problemas do país.

Hoje, mais do que ontem, os académicos e intelectuais são chamados a ter um papel fundamental para elucidar, com o seu saber, as razões das mudanças e problemas sociais, apontar os sinais de emergência de novas formas de viver, de ser e de estar, e, sobretudo, a ensaiar respostas inovadoras às necessidades sociais. Pois, ser académico ou intelectual não nos despe nem nos dispensa da cidadania, pelo contrário se nos impera uma grande dose ou responsabilidade de cidadania pelo privilégio do conhecimento que temos, o que nos impele a lutar por uma sociedade risonha, próspera, desenvolvida, mais humana e fraterna.

Para terminar, em tempo de preparação do jubileu dos 50 anos da proclamação da Independência de Moçambique (total, mas não completa), nada melhor do que ouvir a admoestação de São Francisco de Assis aos seus confrades: “Irmãos, até aqui, nada ou pouco fizemos. Recomecemos”. De facto, fizemos pouco, pois existe a luta pela independência económica, que requer a participação de todos, o tal espírito de cidadania, que para o nosso caso, nos é pedido colocar o nosso conhecimento ao serviço do país. E ainda noutra passagem, o mesmo Santo diz: comece fazendo o necessário, depois o que é possível, e por fim você estará fazendo o impossível”. Isto é, cada um de nós, a seu estilo e segundo as suas capacidades é capaz, aliás é chamado, a fazer algo.

Aliás, o activista político norte-americano, Prémio Nobel da Paz, Martin Luther King, numa das suas célebres frases afirma que, “…o que me preocupa não é o grito dos mausmas o silêncio dos bons”. Nesta mesma linha, o mediático Papa Francisco, numa das suas exortações afirma o seguinte: “… envolver-se na Política é uma obrigação para todo cristão. Os leigos cristãos devem se envolver no mundo da política. A Política está muito desacreditada, mas eu pergunto: ‘está desacreditada por que?’. Por que as pessoas não se envolvem nela? É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas eu, o que estou fazendo? Isto é um dever! trabalhar pelo bem comum é um dever”.

Portanto, tenhamos em mente o provérbio árabe que diz que: “O maior erro é a pressa antes do tempo e a lentidão diante da oportunidade”. Então, o devido uso do “timing” deve ser o nosso apanágio, colocando fora o adágio que afirma quethere is no rush in Africa”, pois camarão que dorme, a onda leva ou acorda na frigideira/prato/chamussa.

É tempo sermos cidadãos responsáveis. Ser cidadão é ser um ser transcendente (transcender condicionalismos políticos, económicos, religiosos…) rumo à construção de uma sociedade de bem-estar; ser cidadão é ser patriota, nacionalista…evitando, assim, a Partidarite (a doença segundo a qual, só os membros de partido é que devem tomar as rédeas do país/município…). Aliás, o Presidente da República, Filipe Nyusi, tem dito: primeiro Moçambique, depois Moçambique e por fim, Moçambique. Ou seja, ser patriota é colocar o país em primeiro lugar, depois o resto. Portanto, dar primazia ao bem comum, ou a “res publica” (coisa pública) e actuar sempre que possível para promovê-la é um imperativo categórico de todo cidadão responsável.

É hora para dizer: scolares et intellectuales, surge et ambula (académicos e intelectuais, levantem-se e andem). Só assim, podemos dizer, como os latinos, no fim da nossa peregrinação terra: veni, vedi et vici (vim, vi e venci).

Continue Lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais Lidas