Ondas de Desinformação  sobre a cólera transformam Mogovolas em Terra de Anarquia Sanitária

O Ministério da Saúde informou que surgiu uma forma de desordem, marcada pelo completo desrespeito às instituições estatais e aos profissionais de saúde no distrito de Mogovolas, na província de Nampula, em função de um aumento da desinformação sobre as razões do surto da cólera.

O ministro da Saúde, que se encontra em Nampula, onde a situação da cólera já resultou, até ao último final de semana, em sete mortes e 193 casos registados, desde Outubro passado, diz que a doença gera um clima de temor entre líderes comunitários, religiosos e profissionais de saúde. A desinformação gerou uma confusão generalizada no distrito que levou à destruição do Centro de Tratamento de Cólera (CTC) e da casa dos Médicos Sem Fronteiras, o que forçou o seu abandono da vila sede do distrito de Mogovolas.

“O distrito de Mogovolas, está sendo influenciado por um momento de desinformação, que cria um clima de trauma não só ao distrito como também aos profissionais de saúde, aos líderes comunitários, líderes religiosos, até as instituições do Estado. Quando se chega a essa fase, é responsabilidade colectiva encontrar soluções, e esta é a razão pela qual nós pedimos a colaboração de todos”, Armindo Tiago pediu o engajamento da sociedade civil para ajudar na mobilização comunitária, com o objectivo de esclarecer as comunidades sobre as origens da cólera.

O ministro afirma que a desinformação está contribuindo significativamente para o aumento das doenças, além de afectar o número de óbitos entre os pacientes. Para exemplificar, em razão das crenças existentes nas comunidades, após a destruição da CTC de Mogovolas, muitos doentes se viram obrigados a abandonar o centro, com alguns voltando para casa e outros se dirigindo a diferentes unidades de saúde, o que resultou na mistura com pacientes comuns e acelerou a propagação da infecção.

“Algumas consequências para além do aumento da mortalidade, ocorrido naquele local, foi a vandalização do Centro de Tratamento Da Cólera, quase três vezes, doentes tiveram que fugir, alguns para as suas casas, outros para a unidade sanitária próxima, misturando-se doentes de cólera com outros doentes, o que é um problema serio”.

“Por tanto, a segunda consequência mais grave ainda, a Organização Médicos sem Fronteira teve que deixar o distrito. Eles encontrava-se a ajudar em duas áreas, primeiro, em organizar e gerir a cólera naquele distrito, em segundo lugar eles instalaram no distrito de Mogovolas sede, um hospital do tipo moderno, e este hospital foi instalado com a finalidade primária de fazer cirurgias, para pessoas com problemas de hidrocele, mas após acabar este projecto, o hospital construído, fica para o distrito com mais-valia. Por tanto” afirmou o Ministro ao discutir os efeitos da desordem que se instalou na região devido à propagação de notícias falsas.

Além da falta de informação sobre a origem da cólera, o distrito de Mogovolas enfrenta problemas como a baixa receptividade a medidas de controlo da doença, o inadequado saneamento básico, o alto índice de poluição nas fontes de água e a insuficiência da rede de abastecimento de água.

Uma pesquisa realizada em 1.236 residências no distrito revelou que somente 303 possuíam latrinas, correspondendo a 24,5%. Além disso, entre as 40 amostras de água colectadas, 13 foram analisadas, e 11 delas, ou seja, 84,6%, mostraram-se inadequadas para consumo. Para piorar a situação, apenas 33,7% da população do distrito de Mogovolas tem acesso à água considerada própria para beber.

O ministro Tiago solicitou aos executivos da empresa Águas da Região Norte que encontrem uma solução para os problemas no Sistema de Abastecimento de Água da vila sede do distrito de Mogovolas. Essa situação, segundo o ministro Tiago, pode estar levando a população a buscar fontes alternativas, contribuindo para o aumento da incidência de doenças mortais.

‘’Uma das questões críticas naquele Distrito é a água e lá, o sistema local tem a moto-bomba avariada, nós, queríamos que as pessoas responsáveis por essa área, fossem a Nametil para resolver esse problema, no mais curto espaço de tempo’’ Pediu Tiago exortando a sociedade no geral para a contenção da onda crescente de desinformação que tomou conta do distrito de Mogovolas.

“Devemos reduzir as consequências daquilo que eventualmente poderá acontecer, estar preparados para chamada resposta, na prevenção, na medicação e na resposta todos somos chamados a estar lá, cada um com o seu papel, tem o papel do indivíduo, a comunidade, os órgãos de comunicação social, entre outros, que eventualmente possam estar. Acho que é fundamente agradecer ao representante das forças de defesa, para nos ajudar nos momentos críticos que for necessário, para resposta da melhoria da cólera.’’

A desinformação das comunidades sobre a origem da cólera é um antigo desafio na província de Nampula, que resulta, a cada ano, em perdas de vidas, danos a infraestruturas públicas, especialmente no sector de saúde, e em situações extremas, na morte de líderes comunitários e na destruição de suas casas.

Em Abril deste ano, 99 indivíduos transportados numa embarcação de pesca, morreram em um desastre marítimo próximo à Ilha de Moçambique, enquanto alegadamente a população de Lunga tentava fugir daquele Posto Administrativo, que faz parte do distrito de Mossuril, em direcção à ilha de Moçambique. Elina Eciate e Redaccão