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Marchal Manufredo: “A politização das universidades vem afastando os académicos do conflito de cabo delgado”
A Associação de Estudantes, Pesquisadores e Inovadores de Moçambique em Nampula criticou a politização do pensamento dos académicos moçambicanos e das instituições de ensino em relação às pesquisas sobre a situação da insurgência em Cabo Delgado.
Segundo o líder daquela instituição académica, Marchal Manufredo, “a politização das universidades vem enfraquecendo os estudos sobre Cabo Delgado, afastando os académicos do conflito para uma distância ainda maior”. Como consequência, de acordo com ele, há escassez de estudos que registem o conflito e possam ajudar a compreender a sua origem. Tudo o que se tem conhecimento, é que o conflito tem sido alimentado por um grupo de jovens insatisfeitos com as políticas, existindo fracções que continuam ligadas às questões puramente religiosas, o que na sua visão não é a realidade.
“Em Dezembro, foi exibida na televisão uma equipe de profissionais universitários declarando estarem criadas as condições para negociar com os extremistas, alegando que todas as circunstâncias estavam reunidas para que isso acontecesse no mês de Janeiro, no entanto, recentemente os mesmos académicos mudaram de opinião, como isso pode ser explicado?”, questionou o especialista.
“O envolvimento político das instituições de ensino superior enfraquece de maneira significativa as pesquisas académicas, dificultando as universidades de investigarem o terrorismo”, considera Marchal, que critica a situação em que o país, repleto de possibilidades para crescer, está sendo gradualmente degradado.
Segundo Marchal Manufredo, que lidera um estudo em parceria com pesquisadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, em Portugal, acerca dos direitos humanos dos deslocados de Cabo Delgado abrigados no centro de Corane, “enquanto houver líderes lutando por interesses económicos e políticos, o terrorismo em Cabo Delgado jamais será eliminado”.
Segundo Marchal Manufredo, o foco principal do Governo tem sido a extracção de gás natural, em detrimento da segurança da população e do bem-estar das comunidades que vêm sofrendo desde o final de 2017, em diversas regiões da província de Cabo Delgado.
Conforme o estudioso, não é lógico atribuir a vulnerabilidade dos jovens como a principal causa do conflito em Cabo Delgado, desde que este eclodiu.
“A vulnerabilidade e insatisfação generalizada dos jovens não podem ser consideradas a principal origem do conflito armado em Cabo Delgado. Em todas as áreas deste país, está presente a vulnerabilidade e descontentamento”, afirmou Marchal Manufredo, destacando que Moçambique vive um momento de crise tanto política quanto económica em larga escala.
“Nas eleições mais recentes em Moçambique, foi notável a ausência de discussões sobre conflitos armados. Isso pode indicar que o governo de Moçambique tem conhecimento dos responsáveis pelo terrorismo em Cabo Delgado”, disse, insistindo que, é fundamental que os políticos tenham uma visão que vá além dos interesses económicos.
A advertência da fonte se volta para os possíveis desafios futuros, já que de acordo com suas declarações, “Estamos nos últimos anos de mandato do Presidente Nyusi e não temos conhecimento dos acordos firmados com Ruanda. Até o momento, os acordos existentes levantam dúvidas, não sabemos se Ruanda irá agir contrariamente aos interesses do povo. Sentimos falta de transparência nas relações com a Total Energy, desconhecemos também as interacções que o ex-presidente tinha com os Estados Unidos e outras grandes potências em relação ao gás natural. Portanto, nos últimos anos, o governo de Moçambique tem demonstrado mais preocupação em explorar o gás do que em garantir a ordem, segurança e bem-estar da população em Cabo Delgado.”
Na ocasião da entrevista ao Rigor, o Marchal Manufredo fez críticas à distribuição de celulares aos líderes comunitários em Mocímboa da Praia como forma de reconhecimento pelo trabalho contra o terrorismo. Ele argumentou que essa doação não irá contribuir efectivamente no combate ao terrorismo, por ser uma medida superficial que evidencia a falta de planificação e agendas por parte das autoridades governamentais.
“O terrorismo em Cabo Delgado representa uma ameaça muito mais grave do que podemos conceber. Os terroristas possuem um conhecimento da região muito mais aprofundado do que os líderes locais e até mesmo do Ruanda. Enquanto o Ruanda utiliza drones para conhecer a área, os terroristas possuem um conhecimento íntimo do território por fazerem parte e terem laços familiares com os líderes locais”, disse.
Por outro lado, a fonte diz que, é questionado o facto de os celulares estarem sendo introduzidos em um momento em que as despesas com comunicação irão se tornar mais elevadas do que nunca. “Eu acredito que o governo moçambicano não parece ter interesse em resolver os conflitos em Cabo Delgado, parece até que estamos a caminhar para a criação de uma República de Cabo Delgado, que em três anos poderá ser parte de Ruanda, tendo em vista a relação entre o actual Presidente de Moçambique e Ruanda”. Elina Eciate
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