OPINIÃO
A Cidade Vermelha
A cidade de Nampula acordou num Agosto que anunciava o Verão. Os munícipes já se aglomeravam na paragem para pegar o autocarro e dirigirem-se ao trabalho. Enquanto o cobrador preparava-se para fechar a porta do chapa, uma mulher pediu que a esperasse. Ela vem carregada de uma bacia gigante na cabeça. Tenta entrar, mas a enorme bagagem pede mais atenção e espaço.
― Heee mamã! Vais pagar mais trinta meticais por essa marotha. Diz o cobrador furioso.
― Mas por quê? Pergunta a senhora toda exausta.
A pergunta foi respondida pelo olhar frívolo e nervoso do cobrador. Mal a senhora senta e o motorista colocasse em fuga rumo ao mercado grossista do Waresta. O tempo não para, e como diz o ditado popular: tempo é dinheiro, dinheiro este que o condutor do transporte semi-colectivo deseja encontrar com o abarrotar dos passageiros ultrapassando outras viaturas como um velocista profissional de fórmula um. Fez uma curva e encontrou três buracos diferentes. No primeiro buraco a porta do minibus abriu-se bruscamente, deixando o cobrador descontrolado. No segundo buraco, as pessoas saltaram dos bancos e batiam-se com o tecto do autocarro e os pertences voavam, mas foi só no terceiro buraco onde o balde da senhora voou fazendo um mortal acrobático em câmara lenta e de lá foram saindo: tocossado de peixe, piripiri, salada de alface, molho de tomate e caracata quente. Quando o motorista estabilizou finalmente o carro, notou-se que grande parte da refeição havia sido arremessada para fora do automóvel e a outra parte pousara nas roupas e rostos dos passageiros. Começando pela senhora vendedeira que chorava pela perda de seus bens, os passageiros foram saindo um por um do chapa, reclamando.
― O que faço agora? Dizia a senhora em língua Emakua.
A comida que cairá, consumia a poeira e a areia vermelha que inundava as artérias da cidade.
― Com essa poeira, esse peixe vai apanhar constipação, melhor tirar logo dai. Disse um passageiro que limpava com a mão a camisa suja de molho e colocava-a na boca ― Esse caril também, falta sal. Disse ele gritando.
Os mendigos da cidade banquetearam-se da refeição que gradualmente ia ganhando uma cor avermelhada igual às ruas daquela cidade nortenha, os passageiros, iam arranjando formas de limpar-se e prosseguir ao serviço quando o cobrador chegou junto à senhora e disse-lhe:
― Chegas-te ao teu destino, é melhor pagar.
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