Tranquilidade inquietante marca segundo dia das manifestações na cidade em Nampula

Após a cidade de Nampula ter enfrentado uma intensa violência no dia inaugural das manifestações 4×4, nesta Quinta-feira (05.12.2024), o segundo dia das manifestações se apresentou de maneira bastante tranquila, a ponto de parecer ameaçadora.

No final da tarde, uma pequena agitação foi notada, principalmente nos bairros. A rua da Unidade, que mostra um clima tenso nos últimos dias, foi palco de uma possível concentração, mas os manifestantes se dispersaram rapidamente ao serem cercados por diversas viaturas da polícia. Na área do Bispo, em Namicopo, barricadas foram erguidas, e os motoristas enfrentaram a exigência de pagar uma taxa que variava de 20 a 50 meticais para poder passar.

Entretanto, alguns dos jovens que protestavam destacaram que a tranquilidade observada não deve ser interpretada como uma rendição, mas sim como uma breve pausa para honrar os manifestantes que faleceram no dia anterior.

“Sou uma pessoa comum e não estou vinculado ao partido Podemos, mas não posso afirmar que não estou presente nas manifestações; eu realmente participo. No entanto, quando surgem situações inesperadas, prefiro me afastar por ser mais seguro”.

Ele também acrescentou que a tranquilidade não indica que “estamos desistindo das manifestações”. Na verdade, é uma oportunidade para nos organizarmos melhor e estabelecermos uma boa comunicação, permitindo que pensemos em como conduzir nossas manifestações de maneira diferente, já que, em algumas ocasiões, elas acabam se tornando violentas”.

Um dos nossos entrevistados, igualmente apoiante de Venâncio, fez a seguinte observação: “Temos visto muitas pessoas morrerem; actualmente, optamos por não nos manifestar, assim como enterramos nossos amigos assassinados ontem. Não desistiremos até que a verdade eleitoral seja restabelecida; votei em Venâncio.”

Nesta tranquila Quinta-feira, os vendedores foram os que mais se beneficiaram, demonstrando satisfação na entrevista com nossa equipe. Chabane Jorge, um vendedor de rua, fez uma comparação entre o primeiro e o segundo dia das manifestações 4×4, ressaltando que no segundo dia as vendas melhoraram, permitindo recuperar o tempo perdido.

“Vendemos normalmente, sem interrupções, já que não houve manifestação. Hoje, consegui vender alguns cintos”, comentou, antes de revelar seu maior anseio.

“Desejo que as manifestações ocorram de maneira tranquila, sem tumultos, permitindo que as pessoas realizem as suas vendas normalmente. Quando as manifestações se tornam violentas, enfrentamos sérios problemas financeiros e não conseguimos vender nada. Se decidirmos nos manifestar, que seja de forma pacífica e sem actos de vandalismo”.

Na Quinta-feira em Nampula, a tranquilidade predominou em todos os sentidos. Os transportes semi colectivos voltaram nas estradas e circularam sem restrições.

Abacar Carlos, um dos motoristas de transporte semi-colectivo, conhecido como “chapa 100”, concedeu uma entrevista à nossa equipe. Ele partilhou que enfrentava momentos complicados devido às recentes manifestações.

“A situação actual está bastante tranquila, ao contrário de ontem. Infelizmente, o movimento não é como nos dias habituais, tornando as coisas difíceis, mas em uma batalha é assim, nem sempre há oportunidades. Contudo, tenho que admitir que os dias têm sido desafiadores. Diariamente, preciso conseguir uma receita de 4 mil meticais, mas com essas manifestações, mal consigo atingir metade desse valor”, lamentou Abacar Carlos, pai de três crianças.

Ramalho Romeu, outro transportador, solicita que haja um entendimento entre os partidos políticos, visando encerrar as manifestações, uma vez que foram registados diversos óbitos. Além das mortes, essa situação compromete a sobrevivência da população.

“Seria desejável que eles chegassem a um acordo logo, pois muitas vidas estão em risco. Recordo que ontem não pude sair de casa, por saber que era muito arriscado estar na rua. Embora estejamos em meio a manifestações, hoje a situação está tranquila, permitindo que possamos realizar actividades para sustentar nossos filhos”. Vânia Jacinto