SOCIEDADE
Seita Salafiyyah ordena o encerramento da Mesquita de Nahene acusada de ligar-se aos insurgentes
A Mesquita Ab Bun Umair localizada na Unidade de Nahene 1, pertencente à seita islâmica salafiyyah, acaba de ser encerrada por uma ordem da própria salafiyyah, após ser acusada pelos moradores locais de fazer parte dos terroristas de Cabo Delgado devido às semelhanças em sua forma de oração, veste e o estilo de comportamento dos fiéis.
O encerramento da mesquita não está relacionado à maneira como a oração é feita ou às roupas usadas questionadas pelas comunidades que denunciaram a existência da mesquita, mas sim a necessidade de evitar que o pior acontecesse, tendo em conta ao conflito já enraizado, conforme disse o responsável pela divulgação da salafiyyah em Nampula, Muhamed Zuneid Ali, também conhecido como Abu Aisha.
“Decidimos que seria mais apropriado sairmos da mesquita e sugerimos aos irmãos da mesma comunidade que procurem outra mesquita para praticar suas orações. Essa decisão foi tomada porque, como mencionei, estamos enfrentando perseguições e já tentamos de todas as formas resolver esses conflitos, porém sem sucesso. Não havendo solução e as acusações falsas continuam, concluímos que a melhor opção é nos afastarmos desse problema e deixarmos a mesquita, uma vez que, de facto, o problema está enraizado nela.”
Segundo Muhamed Zuneid Ali, a grande procura pela mesquita de Nahene, estava relacionada ao facto de as mesquitas dos Salafitas seguirem as directrizes do Islão na sua pregação.
“São várias mesquitas que procuram a nós para ter orientação religiosa, porque a maioria dos teólogos deixou de desempenhar aquilo que é o dever deles, estão mais para a política, estão mais no negócio, então eles precisam ter alguém que possa-lhes orientar religiosamente”
Comprimento da roupa não é indicativo de extremismo religioso
Quanto às acusações, a Seita salafiyyah desmente a maneira negativa como a imagem da mesquita ou dos muçulmanos salafitas é ligada ao terrorismo.
“Discordamos da afirmação de que o comprimento da roupa acima do tornozelo seja um indicativo de extremismo religioso. Conhecemos muitas pessoas, tanto muçulmanas como não muçulmanas, que usam roupas acima do tornozelo, sem serem acusadas de extremismo. Pelo contrário, esse tipo de vestimenta faz parte da religião. Temos um texto antigo que, para nós salafitas e outros muçulmanos, é uma fonte confiável. No versículo 4093 da sunna Abu Dawud, está escrito que as roupas de um muçulmano devem chegar até a metade da perna”, esclarece o responsável pela divulgação da salafiyyah em Nampula, Muhamad Zuneid Ali.
Ele explica que as acusações sobre o modo de se vestir são apenas uma distracção ao governo, que está focado em encontrar os verdadeiros culpados pelos crimes em Cabo Delgado.
“Temos uma perspectiva distinta e acreditamos que esses grupos devem ser identificados com base em suas ideologias, não pela forma como se vestem. Muitas vezes, eles se camuflam usando calças jeans ou uniformes das Forças Armadas de Moçambique. Isso parece ser uma estratégia para confundir o governo ou as autoridades responsáveis pela investigação, que buscam identificar os verdadeiros responsáveis por tais actividades”, afirmou, negando categoricamente que a Seita salafiyyah tenha financiadores estrangeiros.
“Não temos nenhum patrocinador, nós estamos abertos a que se faça investigação e que essas pessoas provem que valor nós recebemos. Nunca recebemos sequer um centavo fora do país, aliás damos aulas, sem nenhum valor monetário, agora qual é a razão de todas essas perseguições?”, questiona.
Comunidade salafita denuncia mortes e perseguições religiosas
Muhamad Zuneid Ali queixa que os salafitas são alvos de perseguição por outras seitas islâmicas em Nampula, devido à sua não filiação principalmente ao CISLAMO e por seguir fielmente os preceitos originais do islamismo conforme o Alcorão. Ele explicou: “Nós somos muçulmanos salafitas, o que significa que seguimos o Islão segundo o Alcorão e a Sunna, [práticas e ensinamentos do Profeta Muhammad, não especificamente detalhados no Alcorão, o livro sagrado do Islão]”. Ali ressaltou que, por serem rigorosos nesses princípios, a seita tem sido acusada ao longo dos anos de radicalizar o Islão, chegando a ser comparada com insurgentes, algo veementemente contestado pelos salafistas.
“Nós possuímos princípios que nos distinguem de outros grupos muçulmanos, entre esses princípios está a recusa a qualquer grupo terrorista ou extremista, seja ele religioso ou não”, explicou, destacando que, devido às acusações e perseguições iniciadas em 2021, os salafitas enviaram cartas ao presidente da República e outras organizações, explicando as características distintivas da seita salafiyyah.
“As acusações que recebemos não são recentes, datam de 2010, antes do surgimento do grupo extremista alchababe. Algumas organizações, como CISLAMO, aproveitaram essa situação para demonstrar o sentimento de ódio que nutrem por nós”, disse o entrevistado.
Além de cartas enviadas ao presidente da República, os salafitas explicam que denúncias foram feitas ao comando da Polícia e SERNIC após perseguições e assassinatos de seus fiéis, não apenas na cidade, mas também em toda a província de Nampula e cidade de Maputo.
“Estamos sendo alvo de perseguição por diversos líderes religiosos e essa perseguição não se restringe apenas a Nampula. Já enfrentamos esse problema em Nacala-Porto, Liupo, Eráti, Nacarôa, Muecate e até mesmo em Maputo. Infelizmente, diante dessas perseguições, alguns de nossos irmãos foram brutalmente assassinados, sem que saibamos a razão. Outros foram presos e submetidos a torturas”, explicou o líder da seita salafiyyah, expressando sua gratidão pelo facto de alguns detidos terem sido libertos.
Segundo a seita, os salafitas são pelo diálogo, dai que no passado foram enviadas cartas para todas as entidades religiosas, incluindo o Conselho Islâmico de Moçambique, em busca de aconselhamento. Entretanto, lamentavelmente, as cartas não obtiveram resposta.
“Pedimos a presença dessas entidades para uma reunião visando resolver os nossos problemas religiosos e verificamos que essas entidades, através de seus representantes, têm feito várias acusações, incluindo a de que criticamos o governo, impedimos os muçulmanos de frequentar escolas não religiosas e proibimos os muçulmanos de ocuparem cargos no governo.
Isso é completamente falso, visto que trabalhamos em órgãos do governo, sendo alguns de nós, professores, médicos e exercendo outras profissões. Além disso, temos membros que se graduaram tanto em universidades públicas, quanto privadas, com alguns ainda em processo de formação académica. Portanto, consideramos essa acusação infundada e sem evidências concretas”. Raufa Faizal
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