Maria Alice: “Há muitos ditos psicólogos clínicos que têm medo de iniciar consultas”

A Psicóloga moçambicana, Profª. Doutora Maria Alice, afirma que existem muitos indivíduos graduados como Psicólogos Clínicos que hesitam em começar a atender pacientes, por sentirem que não possuem habilidades técnicas adequadas adquiridas durante a sua formação.

Professora de Psicologia Clínica e técnica de farmácia no Hospital Central de Nampula, afirma que essa situação, decorre da falta de Docentes qualificados para ministrar aulas em Universidades e Institutos de Ciências de Saúde, resultando em uma formação insatisfatória para os Técnicos, tanto de nível médio quanto superior, formados nessas Instituições.

“Eu vejo que há muitos ditos Psicólogos profissionais que tiveram a oportunidade de fazer esse curso, mas têm medo de iniciar a carreira, fazer as consultas, porque eles não tiveram a oportunidade de ter Docentes competentes. O próprio currículo para Psicólogo Clínico, não tem a parte Clínica, por não ter também Docentes que tenham uma experiência na área clínica. Torna-se difícil que os Técnicos formados comecem a fazer consultas”, disse a Docente Maria Alice que entende haver falta de formação adequada.

Alice, recorda que o campo da Psicologia Clínica possui grande relevância, pois se dedica ao atendimento de pessoas. Por isso, a formação apropriada para os profissionais dessa área deve incluir tanto os aspectos teóricos quanto práticos. No entanto, a falta de capacidade nas instituições responsáveis pela formação de profissionais de Saúde, incluindo Universidades e Institutos de Ciências da Saúde, acaba prejudicando esse processo.

“Há, maioria dos cursos de Ciências de Saúde, não têm a cadeira de Psicologia e Pedagogia. Se eu digo Psicopedagogia são duas áreas, áreas de Psicologia e área de Pedagogia. Área de Psicologia é saber ensinar a saber ser e ensinar a saber estar e área de pedagogia é saber fazer. Estruturar uma aula é uma arte, não é só a pessoa ser Especialista, mas enquanto não consegue estruturar uma aula, por exemplo, numa prova ele dá duzentas perguntas, 90 ou 30 perguntas, mas com várias alíneas lá dentro e perguntas, muitas vezes, para limitar os Estudantes”, disse, afirmando que muitos Docentes não sabem dar aulas, mesmo que se considerem Especialistas em suas áreas. Para ela, ensinar vai além de transmitir conhecimento técnico: “Dar aulas requer saber ouvir, saber fazer e saber ser.”

Maria Alice, ressalta a importância de uma formação Psicopedagógica constante para os Professores.

“ A área de Psicopedagogia devia ser inclusa em todas as Universidades. Um estudo que eu fiz, cheguei a conclusão que todas as Instituições deviam ter a Cadeira de Psicopedagogia, para também saber estruturar as aulas. A saúde mental de uma pessoa é muito importante, não é um papel que se rasga, então isso é complicado. Muitas vezes acontece que o indivíduo, após a Licenciatura vai ser escolhido, porque a pessoa que está seleccionar é familiar, um amigo, ele começa a dar aulas e não sabe estruturar uma aula, não sabe estruturar aqueles instrumentos que possa usar na sala de aula, então tem que existir esta parte de seleccionar o Docente capaz de estruturar uma aula com o conhecimento que ele traz na carteira.”

Maria Alice, afirma que muitos Professores “não sabem ensinar”, apesar de se considerarem especialistas em suas áreas de Disciplinas. Segundo ela, o acto de educar envolve mais do que apenas compartilhar informações técnicas: “Dar aulas requer saber ouvir, saber fazer e saber ser,” argumenta, destacando a necessidade de uma formação Psicopedagógica contínua para os Docentes.

Maria Alice, é autora do livro sobre Supervisão e Ética Profissional: Desenvolvimento Curricular e Formação Pedagógica no Ensino Superior de Moçambique. A obra fala sobre a evolução dos conceitos de supervisão e ética profissional, com o objectivo de fornecer uma compreensão holística sobre o impacto da ética no desempenho profissional dos docentes. Vânia Jacinto