Cambrão sugere amnistia ou negociações directas entre Nyusi e Venâncio 

O académico moçambicano Pedrito Cambrão afirma que existem apenas duas opções para resolver a turbulência social que o país enfrenta desde as eleições de 9 de Outubro: conceder uma Amnistia a Venâncio para que ele possa participar das negociações, ou que o presidente da República ou seus representantes busquem um diálogo directo com Venâncio, em condições equivalentes ao que ocorreu entre o presidente Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama.

Pedrito Cambrão defende que a paz é o bem mais precioso que uma nação pode ter. Ele sustenta que, considerando a insegurança que Venâncio cita como um obstáculo ao diálogo sugerido pelo Presidente da República, a alternativa mais apropriada seria o presidente se reunir pessoalmente com ele, seja indo ao seu encontro ou oferecendo o perdão.

“O Chefe do Estado, o alto magistrado da nação, pode fazer aquilo que fez, quando foi ao encontro de Dhlakama, foi a serra da Gorongosa, contra a vontade dos seus partidários e ele falou isso muitas vezes. Ele foi contra a vontade dos seus partidos porque queria o bem maior, a paz, a coesão social. Conversou com Dhlakama e tivemos aquele momento de paz, o mesmo pode se aplicar. Já que Venâncio não pode vir, porque alega insegurança, visto que está sendo procurado pela procuradoria da república, pelo Ministério Público, então duas possibilidades, ou há uma amnistia, Venâncio fica ilesado das acusações que cai sobre ele ou então vai-se ao encontro dele, pode ser por meio do presidente ou de mediadores”, propõe Cambrão.

Pedrito Cambrão afirma que é fundamental aproveitar as experiências positivas do passado que trouxeram a paz ao país. Ele recorda que, para pôr fim à Guerra de desestabilização Nacional, que resultou no acordo de paz assinado em 1992 em Roma, alguém se dirigiu a Dhlakama, dando início a negociações que encerraram um conflito que durou 16 anos.

“Então pode se encontrar pessoas, que podem ir ao encontro de Venâncio, para o bem maior que é a coesão social e a paz em Moçambique. No lugar de esperamos o famoso turbo V8, no lugar de esperamos o anúncio e a promulgação dos resultados, isto pode revelar numa chacina, será que nós queremos chegar lá? Já basta!”

O académico afirma que a nação vivenciou a perda de inúmeros moçambicanos ao longo da guerra de 16 anos e nas guerras intermitentes subsequentes. Durante diversos conflitos eleitorais, o país presenciou a morte de muitas pessoas ao longo do centro do país.

Refere o académico que actualmente, em decorrência do conflito em curso, já foram registados mais de cem óbitos, além da destruição de várias infraestruturas, tanto públicas quanto privadas.

“ A minha ideia é que se converse com ele, mesmo que haja validação, contagem ou anulação como propõe a ordem dos Advogados, para mim deve haver primeiro esse encontro, porque foi o próprio Presidente da República que abriu o espaço para conversações, simplesmente porque o outro não veio. Venâncio não veio por falta de condições, uma vez que ele é procurado, tem as contas bloqueadas, tem um processo contra a sua pessoa, porque é acusado de atentado a golpe de Estado e tantas outras acusações, daí que o bom senso deve reinar, mais do que a legalidade”, diz Pedrito Cambrão.

Ao ser indagado sobre a localização actual de Venâncio Mondlane para auxiliar na conversa directa, o académico esclareceu que o Presidente tem pleno conhecimento sobre onde ele se encontra. “Venâncio já declarou diversas vezes que o chefe de Estado conhece a sua localização. As pessoas tinham informações sobre onde Dhlakama se encontrava. Há quem saiba, existem intermediários. Ele sempre menciona que está disponível, o presidente da República pode entrar em contacto com ele.” Vânia Jacinto