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OPINIÃO

A emancipação vai além da capulana

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Não há dúvidas de que as mulheres moçambicanas deram passos enormes nas últimas décadas. Hoje, estão mais presentes na política, no ensino, no empreendedorismo, na comunicação social e em tantas outras áreas onde antes mal se notava a sua presença. A mulher já não é apenas espectadora — é actriz activa do desenvolvimento.

Participa, opina, lidera. Está a caminhar lado a lado com o homem. No entanto, apesar desses avanços, é importante reflectir sobre certas contradições que ainda se manifestam em pequenos gestos ou exigências culturais que, por vezes, colocam em causa o verdadeiro significado da emancipação.

A capulana, por exemplo — símbolo forte da identidade da mulher moçambicana e, em especial, da mulher macua — tem sido muitas vezes mal compreendida ou até usada exageradamente. Há casos em que a exigência da capulana oferecida pelo homem transforma-se em motivo de conflito doméstico, com episódios trágicos como agressões e até queimaduras. Em certos contextos, já se ouve dizer que “a capulana do homem anima mais”, o que mostra uma percepção distorcida do valor da mulher e da sua autonomia.

Emancipação não é apenas saber exigir. É, sobretudo, ter consciência dos próprios direitos, deveres e capacidades. É participar activamente nas decisões, sem submissão cega a costumes que geram violência ou desvalorização. A mulher emancipada é aquela que constrói, debate, avança — com ou sem capulana. Até Josina Machel, referência maior da luta feminina, poucas vezes apareceu com capulana.

As mulheres moçambicanas estão emancipad​as, e isso deve ser motivo de orgulho colectivo. Reconhecemos e valorizamos as suas lutas, conquistas e o papel transformador que desempenham em todos os espaços da sociedade. A capulana, símbolo de identidade e resistência, continua a ser um elemento importante da expressão cultural feminina. No entanto, é necessário que certos hábitos e pressões sociais deixem de ofuscar as verdadeiras batalhas pela igualdade. A emancipação não se mede por exigências materiais, mas pela consciência, liberdade e capacidade de decidir. Que as conquistas das mulheres não sejam reduzidas a episódios pontuais e que as dificuldades herdadas sejam, pouco a pouco, superadas — com firmeza, sabedoria e união.

 

 

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